São Paulo, domingo, 25 de junho de 2000


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'O CRAVO E A ROSA'
Globo repassa o século 20 com novas tramas de época


Nova novela das seis e a série "Aquarela do Brasil", prevista para o próximo semestre, enfocam o passado recente do país


DA SUCURSAL DO RIO E

DA REPORTAGEM LOCAL

OS 500 ANOS do Descobrimento trouxeram as novelas de época de volta à programação da Globo. Mas em especial a emissora resolveu fazer um retrospecto do século prestes a terminar.
"Achávamos que o horário das seis precisava voltar a ter novelas de época e colocamos isso em prática desde "Força de um Desejo", no ano passado. Há um público específico nesse horário que não quer ver os programas de mundo cão e procura algo mais leve e agradável", afirma o diretor de núcleo Denis Carvalho.
Já no final de 1999, quando "A Muralha" e "A Invenção do Brasil" foram anunciadas, os autores dessas obras confirmaram que a direção da Globo queria diversificar os períodos históricos de suas obras dramatúrgicas. Assim, "A Muralha" se passa no século 17, e "Invenção" mostra Caramuru chegando ao Brasil antes mesmo de Pedro Álvares Cabral, em 1500. São épocas nunca antes abordadas em novelas ou minisséries da emissora.
"Novela de época não precisa ser sempre no século 19, na época da escravidão. Pode situar-se em um passado não tão distante, como em "Esplendor", por exemplo, passada nos anos 50", diz Carvalho, responsável por "O Cravo e a Rosa", nova novela das seis da Globo, que estréia amanhã. A trama, que marca a estréia de Walcyr Carrasco como autor de novelas na emissora, se passa no fim dos agitados anos 20, em plena explosão do modernismo e perto da quebra da bolsa de Nova York, que mergulhou o mundo em uma depressão financeira.
A última novela de Carrasco, por sinal um especialista em tramas de época, foi "Fascinação", no SBT, passada nos anos 30. Antes, ele visitou os anos de escravidão, com o sucesso "Xica da Silva", na extinta TV Manchete.
"Escrever novelas de época é falar sobre os hábitos das pessoas, a forma como elas encaravam certas situações. Gosto de explorar as diferenças do vocabulário, as comidas. Fiz história na USP antes de escrever novelas, e o assunto me apaixona", conta o autor. Carrasco diz que costuma pesquisar temas como as receitas culinárias da época e até mesmo as simpatias do período, que surgirão na trama.
O modernismo surgirá em cena com personagens recitando poemas de Manuel Bandeira e com figurantes vivendo o escritor Oswald de Andrade, artífice da antropofagia, e a pintora Tarsila do Amaral, autora de uma das obras-símbolo do movimento, o "Abaporu".
"Li muito Monteiro Lobato e Oswald para pegar expressões do período. Procurei retratar também a emancipação da mulher. Na época, tivemos a primeira aviadora. A personagem Catarina, por exemplo, escandaliza a sociedade quando aprende a dirigir", diz Carrasco.
No segundo semestre, a Globo avançará em duas décadas, com a série "Aquarela do Brasil", de Lauro César Muniz, que retratará a era de ouro do rádio nacional, a Segunda Guerra Mundial e o apogeu e queda de Getúlio Vargas.
Ambientada entre 1943 e 50, "Aquarela do Brasil" traz Maria Fernanda Cândido como Isaura Galvão, moça humilde que se torna rainha do rádio. Isaura se envolve com um militar (Edson Celulari), que lutará pelo Brasil na Itália, e com um pianista (Thiago Lacerda).
Lauro César Muniz conta ter se sentido motivado ao ambientar a série em um período de transição. "Tudo começa com o momento áureo do rádio e termina com o aparecimento da TV e com a perplexidade dos artistas do rádio diante desse novo veículo", diz Muniz.
Outra motivação do autor foi fazer justiça aos brasileiros que lutaram na guerra. "Tenho estudado o assunto e observado que a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi crucial para a desocupar a Itália. Não foi uma aventura. Mas os pracinhas não tiveram o devido reconhecimento."
Um tema inevitável é a repressão política da época. O dono da rádio em que Isaura trabalha, vivido por Odilon Wagner, se submete ao Departamento de Informação e Propaganda (DIP), órgão de censura e de divulgação ideológica do Estado Novo getulista. A trama tem ainda um fugitivo da ditadura espanhola de Franco, interpretado por Gracindo Júnior. Até o horário de exibição da série, às 22h, é uma volta ao passado. "É uma faixa que permite tratar temas arrojados, adultos. Assim foi com "O Grito" e "Gabriela'", diz Muniz, sobre antigas novelas da faixa das dez. (ALEXANDRE MARON E BRUNO GARCEZ)

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