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MEMÓRIA
Má administração, perseguição política e incêndios fazem desaparecer as imagens da Excelsior, Tupi, TV Paulista, Continental e TV Rio
Passado das emissoras é uma espécie em extinção
Divulgação
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Os atores Armando Bogus e Fernanda Montenegro em cena da novela "Sangue do Meu Sangue", exibida entre 69 e 70, na Excelsior |
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
QUEM não viu a versão da Excelsior
da novela "A Muralha", não assistiu
aos tropicalistas no programa "Divino
Maravilhoso" ou não conferiu o gol de
placa marcado por Pelé no Maracanã,
em 61, ambos registrados pelas câmeras
da Tupi, pode perder as esperanças.
Tais imagens são raras ou até impossíveis de serem encontradas. No caso da
Tupi, não estão entre as poucas peças
que restam de seu acervo, guardadas na
Cinemateca Brasileira, em São Paulo. O
local preserva imagens raras da rede pioneira, cuja data de fundação (18 de setembro de 1950) marca o advento da TV
no Brasil e que fechou suas portas em
1980. Quanto à Excelsior (1960-70), não
se sabe ao certo o paradeiro do acervo de imagens da emissora, muitas das quais, acredita-se, teriam sido destruídas
no incêndio que vitimou a rede de TV em 1970.
Outras emissoras tiveram ainda menos sorte e seus vestígios foram praticamente apagados. É o caso das paulistas
Excelsior, (1960-70), TV Paulista (inaugurada em 62 e incorporada à Globo poucos anos depois) e das cariocas Continental (1959-72) e TV Rio (estreou em 55 e foi vendida para a Bandeirantes em 68). As razões para o desaparecimento de imagens feitas já após a chegada do videoteipe envolvem problemas financeiros, administrativos e até tragédias.
"Como a Excelsior foi fechada, quase nada restou de seu
acervo. Só recentemente fui ver coisas que criei na emissora, no especial de 50 anos da Globo. Por sinal, a Globo só
conseguiu dominar o mercado com o fechamento da Excelsior, a grande produtora de novelas da época", afirma Vicente Sesso, autor da primeira versão de "Sangue do Meu
Sangue", uma das novelas de maior sucesso da Excelsior e
que trazia no elenco, entre outros, Francisco Cuoco, Fernanda Montenegro, Tônia Carrero e Armando Bogus.
Há até mistérios envolvendo o desaparecimento de imagens. O produtor e diretor Aníbal Massaini, que prepara
um documentário sobre Pelé, julgava estar próximo do paradeiro da imagem do "gol de placa" marcado pelo jogador
no Maracanã, em 5 de março de 1961, pelo Santos contra o
Fluminense. "Descobrimos um documentário da Tupi que
trazia essa imagem. Tivemos acesso a uma cópia da fita,
mas, quando chega a cena do gol, surgem imagens dos gols
marcados por Pelé na decisão do Mundial interclubes contra o Benfica, em 62", conta Massaini.
Algumas desaparições tem razões mais prosaicas. Foi o
caso do programa "Divino Maravilhoso", que desapareceu
pelas mãos de seu próprio criador, o diretor Fernando Faro. "A polícia estava em cima de Gil e
Caetano (que participavam da atração), por isso
decidimos apagar as fitas. O programa acabaria
servindo de prova contra eles", afirma Faro,
atualmente no ar com o "Ensaio", da Cultura.
Solano Ribeiro, que atualmente dirige o "Festival da Música Brasileira", da Globo, e fez os festivais da Excelsior, em 65, conta que o desaparecimento do acervo da emissora, além das gravações dos Festivais da Record, se devem a "um
misto de tragédias naturais, displicência e economia burra, já que para economizar as fitas, as
pessoas gravavam por cima".
Colaborou CLÁUDIA CROITOR, da Reportagem Local
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