São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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MEMÓRIA

Cinemateca guarda o que restou das imagens da Tupi

Emissoras atuais buscam preservar seus acervos a fim de não ter destino semelhante ao das redes do passado; hoje, só restam seis capítulos de "Estúpido Cupido", da Globo, não há mais registro de "Os Ossos do Barão", da mesma emissora, e o programa "Jovem Guarda", da Record, conta com poucas cópias disponíveis.

DA REPORTAGEM LOCAL

AS imagens que restam da Tupi chegaram à Cinemateca Brasileira em 85. "Quando a emissora faliu, seu patrimônio foi repassado à Previdência Social, por pagamentos atrasados, e o Ministério da Cultura nos entregou. O que sobrou do acervo está aqui. Temos muito material de telejornalismo, como o "Repórter Esso", mas muita coisa foi perdida na emissora, porque não havia controle de quem consultava as fitas", afirma Carlos Roberto de Souza, coordenador do acervo da Cinemateca.
O acervo possui raridades como capítulos das novelas "Beto Rockefeller" (1968-69), "Mulheres de Areia" (1973-74), a primeira luta profissional do então Cassius Clay, em 60, e uma palestra de Carlos Lacerda, em 67, sobre a criação da Frente Ampla. Produções mais antigas são registradas em película, as mais novas foram vertidas para fitas de VHS.
Até o final do ano, a cinemateca pretende inaugurar uma sala climatizada e moderna para abrigar o acervo da Tupi. Mauro Alencar, doutorando da USP e pesquisador da Globo, diz que não apenas as da Tupi, mas várias outras produções se perderam.
"Não resta mais qualquer registro de "Redenção" (Excelsior), a mais longa novela brasileira, com 596 capítulos. "O Cafona", da Globo, também não existe mais, nem "Os Estranhos" (Excelsior), com Pelé, ou a primeira telenovela diária do país, "2-5499 Ocupado" (Excelsior)."
Carlos Zara, que foi diretor de teledramaturgia da TV Record e da TV Excelsior, lamenta que não haja mais registros de atrações como "Grande Teatro Record", mas não atribui a perda dessas imagens ao pouco caso. "A maior parte do que sumiu não foi por culpa de ninguém, era falta de dinheiro. As fitas eram caras, eles tinham que apagá-las para gravar um novo programa em cima."
Entre as redes atuais, a Globo possui um dos maiores acervos de programas da TV brasileira. Seu centro de documentação foi criado em 1976 e conta com boa parte de seus programas, novelas e noticiários.
Só no departamento que cuida do acervo do jornalismo da emissora, há cerca de 150 mil fitas de reportagens e noticiários, além de quase 70 mil filmes, com reportagens feitas desde 65, quando foi fundada a emissora. "Recebemos cerca de mil pedidos de fitas antigas por dia, vindos da produção de todos os programas da Globo", conta Raquel Brandão, diretora do Cedoc, o centro de documentação da emissora.
A Cultura é outra que mantém arquivado boa parte de seu acervo, de mais de 30 anos, em mais de 60 mil fitas. O arquivo dispõe até de algumas fitas reunindo material da Excelsior, guardado, mas não catalogado.
Por outro lado, há emissoras que praticamente não têm memória. A Gazeta, fundada há 30 anos, quase não tem arquivos com sua programação. No seu acervo, estão apenas alguns programas em comemoração a datas especiais e cenas da inauguração da emissora.
(BRUNO GARCEZ E CLÁUDIA CROITOR)


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