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Rio é a polis grega de Machado
NÉLIDA PIÑON
especial para a Folha
Para Machado de Assis, o
Rio de Janeiro é a polis grega. Em seu cenário jaz o
homem em busca da sua
alma. A cidade propicia o
deflagrar da sua tragédia, a
revelação da sua ironia. Ao
perambular pelas ruas do
Centro e dos bairros, estes
últimos com a marca da
burguesia ascendente, o
escrito executa a inapelável
sentença de morte contra
os seus personagens, indicando-lhes de que promotórios hão de enxergar a linha do horizonte indicativo da sua curta e dolorida
existência.
As ruas do Rio, para este
gênio, são esconderijos das
paixões, dos assombros,
da vilania. Atravessar a rua
do Ouvidor é disparar a seta com que aprisionar a
cartografia de uma densa
cidade. É encerrar, como
se fora ele o arquiteto Dedalus, o touro e a nós nos
tortuosos limites urbanos
do Rio de Janeiro.
NÉLIDA PIÑON é presidente da
Academia Brasileira de Letras
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