São José dos Campos, Domingo, 13 de dezembro de 1998

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COMPORTAMENTO
Restaurantes da moda de SP contratam atores, universitários e músicos que sugerem do prato a um bom filme
Garçom cult rouba espaço do 'pinguim'

ALESSANDRA BLANCO
da Reportagem Local

Eles acabaram de sair da faculdade de filosofia, moda, artes plásticas ou artes dramáticas. São bonitos, falam mais de uma língua, já fizeram bicos como modelos e alguns estão até no teatro ou no cinema, mas, em São Paulo, encontraram uma forma de compensar as dificuldades de entrar no mercado de trabalho: são garçons nos restaurantes da moda da cidade.
O Spot e o Ritz lançaram a tendência. O proprietário, Sérgio Kalil, tem preferência por garçons atores, músicos ou universitários. Não precisam ser bonitos, mas têm de ser "interessantes".
Para isso, Kalil está aberto para horários alternativos de trabalho. Há quem trabalhe só alguns dias da semana e até quem tire licença quando vai estrear no teatro. Quem trabalha todos os dias, um período, pode ganhar até R$ 1.200.
Daniel Nunes, 22, é formado em filosofia, mas decidiu trabalhar como garçom no Spot por causa do dinheiro. Ele diz que o trabalho é passageiro, mas só o deixará por algo "muito melhor".

Alternativos
Além do Spot e do Ritz, vários outros restaurantes estão abrindo as portas para o que chamam de garçons alternativos, entre eles, Ruella, Piola, Mestiço, Tamarindo, Capim Santo e Tambor.
O estilo é o mesmo: jovens, bonitos, com roupas despojadas, muitos com tatuagem ou piercings, mas todos com formação universitária, que gostam de ser chamados pelo nome e não atendem quem os trate como serviçais.
"As pessoas não querem mais o garçom pinguim, querem ser atendidas por alguém igual a elas, que possa sugerir o prato, a bebida. A relação de garçom e cliente não é de igual para igual, tem uma superioridade do garçom", diz Arthur Baroni, 24, estudante de filosofia e garçom do Ruella.
Claudia Apóstolo, 28, por exemplo, por ser atriz, é procurada pelos clientes do Spot para sugestões não só do prato, mas de um filme ou peça de teatro após o jantar.
"Garçom e clientes hoje têm o mesmo perfil. Então, os clientes, ou já são nossos amigos, ou acabam virando", diz Ricardo Schiller, 22, ator e garçom do Ritz.
Plinio Savaro Jr., 25, engenheiro de alimentos e garçom do Piola, entrou na profissão para quebrar o galho de um amigo, o dono da Torre do Dr. Zero. "Eu ia sempre lá. Um dia um garçom faltou, ele me pediu ajuda e acabei ficando."
O Piola, aliás, oferece a seus garçons cursos de línguas e promove intercâmbios com garçons da Itália e da Argentina.

Incentivos
Thalita Maiani, 18, já passou pelo Piola e trabalha agora no Bar"N Co.. Além de falar inglês e alemão, ela está prestando vestibular para direito.
"Quando vou retirar os cinzeiros sujos, as pessoas se assustam porque achavam que eu era cliente", conta.
Danielle Dahoui, proprietária do Ruella, também procura incentivar seus funcionários não só com cursos da área, como de bebidas, cortes de carnes ou sobremesas, mas até com ioga.
"Aqui, temos um relacionamento muito bom, fazemos reuniões semanais em que dou bronca e também escuto reclamações. Mas, lá fora, a vida não é fácil. Então, pago uma professora para vir ao restaurante dar aula de ioga", conta.
A tática, segundo ela, funciona porque, depois, pode cobrar mais da equipe. Quanto à nova imagem de garçons apresentada em seu restaurante, Dahoui acredita que, no começo, os clientes se assustaram, mas, agora, já se acostumaram com o garçom que dá palpite.
"Eles são vendedores, não garçons, falam mais de um idioma, têm um bom paladar. Mas também são mais estrelinhas, faltam mais", afirma.
Arthur concorda com o "vendedor" e também o "estrelinha". "Antes, o legal era trabalhar na Forum ou na Zoomp, agora, é trabalhar em um restaurante da moda. Estou fazendo o trabalho, mas não vou ser solícito ou serviçal."



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