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COMPORTAMENTO
Restaurantes da moda de SP contratam atores, universitários e músicos que sugerem do prato a um bom filme
Garçom cult rouba espaço do 'pinguim'
ALESSANDRA BLANCO
da Reportagem Local
Eles acabaram de sair da faculdade de filosofia, moda, artes plásticas ou artes dramáticas. São bonitos, falam mais de uma língua, já fizeram bicos como modelos e alguns estão até no teatro ou no cinema, mas, em São Paulo, encontraram uma forma de compensar as
dificuldades de entrar no mercado
de trabalho: são garçons nos restaurantes da moda da cidade.
O Spot e o Ritz lançaram a tendência. O proprietário, Sérgio Kalil, tem preferência por garçons
atores, músicos ou universitários.
Não precisam ser bonitos, mas têm
de ser "interessantes".
Para isso, Kalil está aberto para
horários alternativos de trabalho.
Há quem trabalhe só alguns dias
da semana e até quem tire licença
quando vai estrear no teatro.
Quem trabalha todos os dias, um
período, pode ganhar até R$ 1.200.
Daniel Nunes, 22, é formado em
filosofia, mas decidiu trabalhar como garçom no Spot por causa do
dinheiro. Ele diz que o trabalho é
passageiro, mas só o deixará por
algo "muito melhor".
Alternativos
Além do Spot e do Ritz, vários
outros restaurantes estão abrindo
as portas para o que chamam de
garçons alternativos, entre eles,
Ruella, Piola, Mestiço, Tamarindo,
Capim Santo e Tambor.
O estilo é o mesmo: jovens, bonitos, com roupas despojadas, muitos com tatuagem ou piercings,
mas todos com formação universitária, que gostam de ser chamados
pelo nome e não atendem quem os
trate como serviçais.
"As pessoas não querem mais o
garçom pinguim, querem ser atendidas por alguém igual a elas, que
possa sugerir o prato, a bebida. A
relação de garçom e cliente não é
de igual para igual, tem uma superioridade do garçom", diz Arthur
Baroni, 24, estudante de filosofia e
garçom do Ruella.
Claudia Apóstolo, 28, por exemplo, por ser atriz, é procurada pelos
clientes do Spot para sugestões não
só do prato, mas de um filme ou
peça de teatro após o jantar.
"Garçom e clientes hoje têm o
mesmo perfil. Então, os clientes,
ou já são nossos amigos, ou acabam virando", diz Ricardo Schiller, 22, ator e garçom do Ritz.
Plinio Savaro Jr., 25, engenheiro
de alimentos e garçom do Piola,
entrou na profissão para quebrar o
galho de um amigo, o dono da Torre do Dr. Zero. "Eu ia sempre lá.
Um dia um garçom faltou, ele me
pediu ajuda e acabei ficando."
O Piola, aliás, oferece a seus garçons cursos de línguas e promove
intercâmbios com garçons da Itália e da Argentina.
Incentivos
Thalita Maiani, 18, já passou pelo
Piola e trabalha agora no Bar"N
Co.. Além de falar inglês e alemão,
ela está prestando vestibular para
direito.
"Quando vou retirar os cinzeiros
sujos, as pessoas se assustam porque achavam que eu era cliente",
conta.
Danielle Dahoui, proprietária do
Ruella, também procura incentivar seus funcionários não só com
cursos da área, como de bebidas,
cortes de carnes ou sobremesas,
mas até com ioga.
"Aqui, temos um relacionamento muito bom, fazemos reuniões
semanais em que dou bronca e
também escuto reclamações. Mas,
lá fora, a vida não é fácil. Então, pago uma professora para vir ao restaurante dar aula de ioga", conta.
A tática, segundo ela, funciona
porque, depois, pode cobrar mais
da equipe. Quanto à nova imagem
de garçons apresentada em seu
restaurante, Dahoui acredita que,
no começo, os clientes se assustaram, mas, agora, já se acostumaram com o garçom que dá palpite.
"Eles são vendedores, não garçons, falam mais de um idioma,
têm um bom paladar. Mas também são mais estrelinhas, faltam
mais", afirma.
Arthur concorda com o "vendedor" e também o "estrelinha".
"Antes, o legal era trabalhar na Forum ou na Zoomp, agora, é trabalhar em um restaurante da moda.
Estou fazendo o trabalho, mas não
vou ser solícito ou serviçal."
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