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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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AMBIENTE

Bicombustíveis tendem a aumentar os poluentes cancerígenos ligados ao álcool; filtros precisam ter manutenção

Flexfuel exige fôlego extra do catalisador

Fernando Moraes/Folha Imagem
Técnico trabalha na medição de poluentes de automóvel no setor de engenharia automotiva e certificação da Cetesb, em São Paulo


ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

A expansão da oferta de veículos bicombustíveis deve aumentar os poluentes despejados pelo álcool na atmosfera. Embora seja considerado, em geral, menos danoso que a gasolina, o álcool também tem seus problemas. O principal é a produção de substâncias cancerígenas.
A novidade ressalta a importância de cuidar dos catalisadores, equipamentos antipoluição que, segundo os próprios fabricantes, são esquecidos pelos motoristas. Manter o conjunto em bom funcionamento não é caro -a reposição vai de R$ 200 a R$ 300- e colabora para a saúde de todos.
Os carros a álcool estavam em desuso, mas o combustível está sendo reabilitado pelos automóveis bicombustíveis, que usam gasolina, álcool ou uma mistura dos dois em qualquer proporção.
Os catalisadores são um sinal da preocupação ambiental. Foram uma exigência do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), instituído em 1986. O programa teve diferentes fases. A obrigatoriedade do catalisador começou só em 1992.

Quando trocar
Roberto Pereira, presidente da Afeevas (Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões Veiculares da América do Sul), diz que a vida útil oficial de um catalisador é 80 mil quilômetros. Apesar de ele afirmar que a experiência mostra uma resistência de até 130 mil quilômetros, é importante considerar o prazo formal.
Antes de terminar a vida útil do equipamento, é preciso cuidar bem dele. Uma dica é observar sua carcaça metálica caso haja alguma pancada em lombadas ou pedras. Essa cápsula de metal é resistente, mas, se estiver amassada, é bom verificar a situação numa oficina.
Falhas de ignição também podem prejudicar o equipamento, causando incêndio nele. O motorista pode nem perceber na hora, mas o dispositivo perde a ação.

Efeitos na saúde
O álcool combustível tem poluentes diferentes dos da gasolina. Alguns que chegam com ele são os aldeídos. Segundo o médico patologista Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), os aldeídos são irritantes e causam complicações para quem tem alergia e doenças como a asma.
Também são mutagênicos, o que é uma condição necessária para desenvolvimento de câncer. "O balanço [da ampliação do uso de álcool] tem de ser avaliado. Precisa haver estudo comparativo [entre os diferentes tipos de combustíveis usados]."
Maria de Fátima Andrade, professora do IAG/USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas), afirma que os carros novos não têm problema, justamente por causa dos catalisadores e da injeção eletrônica (que substitui os carburadores), mas o drama são os velhinhos.
"Os veículos leves deveriam ter no máximo dez anos. Seria preciso haver um programa de incentivo para trocar carros velhos."
A professora defende mais medidas restritivas à circulação de carros, com "ampliação do rodízio talvez". Também pede fiscalização maior sobre veículos pesados -ônibus e caminhões.
A Cetesb (agência ambiental paulista) acompanha as emissões de aldeído. De acordo com Renato Linke, gerente do setor de engenharia automotiva e certificação da agência, a concentração não tem aumentado.



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