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Compre as portas necessárias
do enviado especial
Ditadura deixa raízes profundas.
E o brasileiro não se livra delas. É
ditadura para todo lado. Quando é
para gostar de tchan, tome tchan. E
assim com lambada, pagode, novela, Ratinho, neoliberalismo etc.
Quanto aos automóveis, o brasileiro ainda não chegou à maturidade. Libertando-se aos poucos da
ditadura Volkswagen, nosso consumidor continua doidinho para
embarcar numa onda.
Nos anos 70 e 80, cultivamos a
burra ditadura das duas portas e o
preconceito contra as quatro. Agora, o quadro se inverteu.
Bastam cinco minutos em qualquer esquina de Milão, Paris ou
Frankfurt para perceber como age
o consumidor europeu. Simplesmente compra o necessário.
Solteiros, casais sem filhos ou
com filhos pequenos compram
carros pequenos ou médios de
duas portas. Os outros tendem a
comprar carros de quatro portas.
Mais caros
O europeu não joga dinheiro fora. Carros de quatro portas são
mais caros. Comprá-los sem necessidade é queimar dinheiro.
No Brasil, as pessoas querem primeiro saber qual é a "tendência do
mercado" para depois escolher.
Aí, vêem-se solteiros, casais sem
filhos ou com filhos pequenos,
vendedores viajantes -sempre
sozinhos- a bordo de carros com
duas inúteis portas a mais.
As portas traseiras, que pouco
serão abertas, significam energia e
matéria-prima desperdiçadas, o
que é, no mínimo, antiecológico.
O engenheiro Enrico Becchio, do
Centro de Segurança da Fiat, garante que, em choques laterais, o
carro de duas portas é mais seguro.
"A barra de proteção da porta é
maior, e o que resta da carroceria,
por ser menor, é mais rígido", diz.
Morrer do próprio veneno
A Fiat, principal responsável pelo fim da aversão às quatro portas,
com o Prêmio CSL e o Uno, agora
indiretamente semeia o preconceito contra as duas, ao tirar de linha
essa versão do Palio EL e do 16V.
A fábrica desrespeita o consumidor que comprou esses modelos,
com o frouxo argumento de que "o
mercado decidiu assim".
Conheço pessoas solteiras que já
desistiram de trocar seu Palio 1.0
por um EL ou 16V justamente pelo
fim da versão de duas portas.
Agora, a Fiat terá de convencer o
consumidor de que, apesar de não
ser um quatro portas, o Bravo é
boa opção. Corre o risco de morrer
do próprio veneno.
(PCN)
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