São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Cartões de dívidas


Parcelar dívidas no cartão de crédito é parecido com brincar de roleta-russa, com um revólver cheio de balas


CAIU, FINALMENTE, a ficha do Banco Central em relação aos juros cobrados pelas operadoras de cartões de crédito. O BC promete regulamentar esse mercado, que corre livre, leve e solto, facilidade com a qual os antigos agiotas nunca sonharam. É fundamental coibir os abusivos juros do crédito rotativo, capazes de transformar, em pouco tempo, uma dívida de algumas centenas de reais em milhares de reais.
Mas não nos enganemos. Por mais que haja regulamentação, parcelar dívidas no cartão de crédito é parecido com brincar de roleta-russa, com um revólver cheio de balas. Fica mais caro até do que cheque especial, outro campeão de ganância.
Um dos agravantes de portar um cartão sem ter renda suficiente para bancar as compras é que, a exemplo do que ocorre com quem abusa da bebida alcoólica, muitos consumidores se sentem todo-poderosos. Compram o que não precisam, com dinheiro que não têm.
O dinheiro de plástico deveria, somente, substituir o papel-moeda e os cheques, com eventual parcelamento do valor a ser pago em cada compra, quando a loja informar que não haverá incidência de juros. Mais nada. Ou você, caro leitor, tem dinheiro para pagar a conta, ou não deve adquirir o produto ou serviço.
Tudo o que facilita a vida tem custo. Mas as operadoras passaram dos limites, aproveitando-se da falta de controle. E os consumidores, admitamos, ajudam o verdugo a colocar a forca em seus pescoços.
Há uma proliferação de cartões de lojas, bancos e companhias aéreas, que recheiam as carteiras da classe média e esvaziam as contas dos incautos, pois há muitas pessoas que não podem ter crédito automático, sob pena de agir como jogadores em máquinas caça-níqueis.
Gerentes de banco, com cotas de negócios para fechar mensalmente, oferecem e até pressionam os correntistas para que aceitem cartões. Um constrangimento, porque quem quer ser visto como refratário às sugestões do gerente da conta?
Então, falando sem rodeios, o melhor que poderá vir da regulamentação do BC será um freio à sofreguidão das operadoras de cartões e, talvez, sendo muito otimista, alguma saída para os que foram apanhados por dívidas impagáveis.
Continuará sendo um desafio para cada um de nós lidar com os cartões com critério, cautela e bom senso. Evitar compras impulsivas, especialmente quando estivermos emocionalmente frágeis, por problemas afetivos, de saúde ou profissionais.
Comprar não é a solução para a tristeza. Ao contrário, o acúmulo de dívidas pode acabar com o sono de quem sucumbiu ao porte do cartão.
Que o BC ponha ordem no mercado de cartões de crédito. E que, de uma vez por todas, aprendamos a controlar a vontade de gastar mais do que podemos.


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