CINEMA

Dúvida - Oscar 2009

Peça inspira filme de atores

Ana Paula Sousa

Meryl Streep, com ar de madre superiora, surge como se estivesse vestida para uma festa gótica. Philip Seymour Hoffman, emoldurado pela batina, tem a expressão e a voz dos grandes pregadores. Em "Dúvida", veremos o embate entre os dois atores (ambos indicados ao Oscar -ele como coadjuvante) e, claro, entre seus personagens: uma freira e um padre que trabalham numa escola católica do Bronx, em 1964.

Mas quem brilha de fato e pode até levar a estatueta de atriz coadjuvante é Viola Davis, que vive a mãe de Donald, único aluno negro do colégio. A atriz, em apenas 11 minutos em cena, carrega no rosto o drama de sua família e a ambiguidade do roteiro de John Patrick Shanley, também diretor.

Se a passagem de Viola é carregada de sutileza, o mesmo não se pode dizer do resto do filme. Shanley, preso à linguagem teatral (o filme é baseado em peça de sua autoria), escorrega em imagens óbvias e excessos dramáticos. Mas a força do texto -que parte da suspeita de uma relação erótica entre o padre e o frágil Donald para refletir sobre verdade e intolerância- resiste à solenidade da direção.

Não recomendado para menores de 12 anos.