CINEMA

Sombras de Goya

Milos Forman dirige drama com mão pesada

Ricardo Calil

Diferentemente do que o título sugere, "Sombras de Goya" não é uma biografia de artista convencional ou romântica, do tipo que Hollywood produz em escala e formato industriais. No filme do tcheco Milos Forman ("Amadeus"), o pintor espanhol Francisco Goya (Stellan Skarsgärd) surge não como uma figura heróica, mas como um homem hesitante, com medo de confrontar a Igreja e a monarquia.

De fato, ele nem é o protagonista do filme, mas um observador privilegiado das mudanças da Espanha dos séculos 18 e 19 e, em particular, da relação que se estabelece entre dois dos modelos de seus quadros: o padre Lorenzo (Ja vier Bardem) e a jovem Inés (Natalie Portman) -o primeiro persegue a segunda por suposta heresia.

No papel (ou seja, no roteiro de Forman e de Jean-Claude Carriére), soa mais interessante do que é na tela. Em primeiro lugar, porque o cineasta conta essa interessante história com mão pesada, acentuando seu lado grotesco. Depois, porque o padre de Bardem parece demasiadamente "exemplar" -passando de carola extremo a racionalista convicto.

Talvez seja possível acreditar nele como um símbolo da época retratada, não como um personagem.