CINEMA

Miami Vice

Série policial dos anos 80 ganha retrato globalizado

Ricardo Calil

Produtor executivo da série "Miami Vice", que virou um fenômeno da cultura pop nos anos 80, Michael Mann ("Colateral") foi uma escolha natural para dirigir sua versão cinematográfica. Em vez de apostar no passado, o cineasta trouxe o antigo programa para o presente, com uma visão mais suja, realista e globalizada do universo do crime organizado.

Da série original, ele preservou a premissa e os personagens centrais (dois detetives que se infiltram secretamente entre criminosos de Miami). Mas ignorou os penduricalhos (os blazers com camiseta, o tom pastel da fotografia, a trilha sonora de sucessos oitentistas etc.). Essa recusa da nostalgia fácil pode ajudar a explicar o relativo fracasso do filme nos Estados Unidos -uma injustiça com esse belo filme policial.

Dessa vez, os detetives Sonny Crocket e Ricardo Tubbs (Colin Farrell e Jamie Foxx, nos papéis que foram de Don Johnson e Philip Michael Tho mas) se disfarçam de transportadores de drogas para desbaratar um grupo internacional de traficantes -o que os leva a países como Paraguai, Colômbia, Cuba e Haiti. Mas a missão da dupla se complica quando Sonny se apaixona pela sino-cubana Isabella (Gong Li), amante do chefe da quadrilha.

Com "Miami Vice", Mann prova novamente ser uma figura invulgar em Hollywood, capaz de elaborar combinações sofisticadas de som e imagem, mais interessado em criar atmosferas do que em ilustrar histórias. Mas o filme também reforça uma limitação de seu cinema: o virtuosismo do diretor serve mais para confirmar sua reputação como esteta do que para formar uma visão de mundo. Outra vez, Mann está quilômetros à frente da média, mas um passo aquém da grandeza.