CINEMA

Miss Potter

Cinebiografia tem abordagem ingênua

Sérgio Rizzo

Pedrito Coelho, Esquilo Trinca-Nozes e Sra. Rata Migalha -assim batizados nas traduções publicadas em Portugal- são alguns dos personagens mais populares criados pela inglesa Beatrix Potter (1866-1943) e até hoje reverenciados, no Reino Unido e nos EUA, como companheiros de infância de diversas gerações de leitores.

Por lá, a simples menção ao nome da escritora evoca todo um universo de fantasia facilmente identificável pelo espectador, mais ou menos como a lembrança de Monteiro Lobato ainda ativa memórias afetivas por aqui. "Miss Potter", biografia romanceada de Beatrix, destina-se a essa categoria de platéia, que já sabe quem ela foi (e o que fez) antes mesmo de entrar no cinema.

Não se deve esperar que o público brasileiro acompanhe com o interesse do hemisfério Norte a fusão realizada, no filme, entre o cotidiano bem concreto de Beatrix (Renée Zellweger) e o reino ficcional de seus personagens, que adquirem vida graças à inserção de animação digital em cenas com atores -técnica em que outra aventura de coelho, "Uma Cilada para Roger Rabbit" (88), fez escola.

A opção por contar a história da escritora com ferramentas semelhantes às usadas por ela para contar as histórias de suas criaturas explica a presença, como diretor, do australiano Chris Noonan, que não realizava um longa desde "Babe, o Porquinho Atrapalhado" (95). Ingênua e romântica, a abordagem é coerente com os livros de Beatrix, mas tende a infantilizá-la, característica acentuada pelo habitual repertório de caretas e trejeitos de Zellweger.

Como em "Abaixo o Amor" (03), ela forma par com Ewan McGregor, que interpreta o inexperiente editor no caminho de seus livros e, quem sabe, o marido a impedir sua vocação de tia.