TEATRO

Leonce e Lena

Gabriel Villela volta barroco em encenação de Büchner

Pedro Ivo Dubra

Antes de começar o ensaio aberto, a trilha sonora da sala é sertaneja. Tem início a sessão, e um ator canta "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer", de Fernando Mendes.

Depois, um outro intérprete imita à perfeição o presidente Lula, outro representa Evo Morales, painéis são desfraldados com imagens do artista plástico Farnese de Andrade, soam castanholas, pagode, axé music e até dois versos de "Navio Negreiro", de Castro Alves. O que teria tudo isso a ver com "Leonce e Lena", do alemão Georg Büchner (1813-37)? Ajuda saber que é o mineiro Gabriel Villela, 47, o encenador da comédia que estréia hoje (dia 4) na Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista.

Depois de um "Esperando Godot" enxuto, nada barroco, pautado pela concisão cênica, Villela volta a agregar ao texto original referências de fontes mil, coisa que acontecia, por exemplo, em "Fausto Zero" e em "Gota d'Água".

"Acho que a gente vai sempre viver com esse paradoxo de subtrair de um e adicionar em outro. E o "Leonce Lena' estava programado para acontecer antes do "Godot'. O dinheiro que saiu para o "Godot' não dava para fazer "Leonce e Lena', então tivemos de desrespeitar a ordem inicial", diz o diretor, que refuta a idéia de que esteja retrocedendo esteticamente por retomar as usuais citações.

O texto de Büchner foca um casamento arranjado entre um príncipe e uma princesa que não se conhecem. Casualmente, eles se encontram e se apaixonam sem saber que estão prometidos. Tudo ocorre em meio a uma cenografia de papelão criada por J.C. Serroni. Encampada por 12 jovens atores, "Leonce e Lena" é a segunda parte de uma "trilogia niilista" iniciada com "Esperando Godot" e que deve ser arrematada com "Calígula", de Albert Camus.

Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista - espaço 10º andar (av. Paulista, 119, Bela Vista, região central, tel. 3179-3700). 100 lugares. Qui.: 17h. Sex. a dom.: 20h. Até 24/9. 90 min. 12 anos. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 20. A D