TEATRO

O Púcaro Búlgaro

Jogo de palavras embala sátira nonsense

Pedro Ivo Dubra

"O Púcaro Búlgaro", montagem que São Paulo tem a chance de ver a partir de hoje (dia 20) no Sesc Consolação, é possivelmente a melhor coisa a vir do Rio de Janeiro para cá em termos teatrais em 2007, ano que ainda nem chegou à metade. Deve rivalizar com ela apenas o musical carnavalesco "Sassaricando".

Na peça, Aderbal Freire-Filho adaptou o livro homônimo, publicado em 1964 pelo bissexto escritor mineiro Walter Campos de Carvalho (1916-98), de acordo com os preceitos de uma técnica que chamou de romance-em-cena.

Resumindo a ópera, a obra é levada ao palco praticamente na íntegra, com os atores narrando a prosa do autor ao mesmo tempo em que vão construindo e desconstruindo as cenas sugeridas, numa original fusão dos registros épico e dramático. "A Mulher Carioca aos 22 Anos" e "O que Diz Molero" são os dois trabalhos anteriores criados a partir dessa idéia.

A trama, embalada em radicais jogos de palavras e des dobrada numa espiral deliciosamente redundante, contempla a saga de um homem que resolve organizar uma expedição para verificar se a Bulgária de fato existe. A sátira nonsense produzida por Campos de Carvalho não encontrou companhia na literatura brasileira.

A encenação funcionava muito bem no Rio, onde ficou em cartaz no teatro Poeira, empreendimento de Marieta Severo e Andrea Beltrão. A sala carioca, uma velha casa adaptada para atividades teatrais, tem dois pavimentos de platéia -no segundo andar, situam-se os poleiros, cadeiras altas, mais desconfortáveis e baratas.

Em São Paulo, "O Púcaro Búlgaro" acontece no formato de palco italiano. Conhecendo Aderbal Freire-Filho, não deve haver problema.

www.sescsp.org.br. Sesc Consolação -teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, região central, tel. 3234-3000). 320 lugares. Sex. e sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 27/5. 100 min. 14 anos. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 20. A