Publicidade

Chefes e ex-trainees ensinam a encarar competição na empresa

Depois de uma seleção que dura meses, com milhares de candidatos, provas e entrevistas, vem a sonhada vaga de estagiário ou trainee. Agora, a competição é outra: como encontrar espaço nos ambientes dessas grandes empresas?

Gestores de RH e profissionais que já viveram esse processo contam como se organizaram para mostrar serviço sem se afobar.

"Os primeiros 90 dias são fundamentais para o jovem observar como a empresa funciona no dia a dia e mostrar ao chefe e aos outros colegas se sabe trabalhar em equipe e organizar a sua própria agenda", afirma o especialista em RH Luís Abdalla, da consultoria Seja Trainee.

Priorizar as atividades é uma das maiores dificuldades desses novatos, de acordo com Paola Gigliotti, que é diretora de RH da Louis Dreyfus Company, companhia do setor de agronegócio.

"Estagiários e trainees não podem ter medo de pedir orientação para o chefe. Quanto mais ele pergunta, mais entende o que se espera dele", diz.

Em seu estágio no marketing da Natura, Felipe Braga, 21, criou a rotina de conversar ao menos uma vez por semana com sua gestora.

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 21-08-2018, 11h00: PROGRAMAS DE ESTAGIO E TRAINEE. Felipe Braga (de azul) é estudante de Publicidade e estagiário no marketing da Natura desde 2015. No começo do ano, se juntou a outros estagiarios para criar uma revista destinada a esse público. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, MPME) ***EXCLUSIVO FSP***
O estagiário da Natura Felipe Braga, 21 (centro, de camisa azul), com os colegas (em sentido horário) Gabriela Zanella, Alessandra Liuchy, Daniela Feijão, Gustavo Jesus, Tauane Amaral, Letícia Coelho e Derik Vieira

"Não sabia nem por onde começar o trabalho, mas minha ansiedade diminuía quando, nesses papos, ela me mostrava como fazer tudo", conta Felipe, aluno do último ano do curso de publicidade.

Quando ganhou confiança, Felipe se juntou a outros nove estagiários para criar uma revista com dicas de carreira dadas pelos executivos e uma seção com o número de novatos que foram efetivados.

O medo de errar também foi um desafio para a arquiteta Ana Naressi, 28, quando entrou na turma de 2012 de trainee da Saint-Gobain, que fabrica materiais de construção.

"Agora vejo que a empresa não quer bagagem, quer que você aprenda, saiba questionar e argumentar."

Hoje em um cargo de coordenação, Ana investiu em treinamento para opinar mais e melhor. "Fiz aulas de marketing, finanças e logística para complementar minha formação, que era muito técnica", afirma ela.

Estudar muito antes de pedir a palavra na reunião ajuda na hora de ganhar a confiança do chefe, explica Renata Eduardo, 40, trainee da turma de 2000 da Natura e hoje diretora de marketing.

"O jovem deve achar jeitos de mostrar profundidade e fazer bons diagnósticos, porque isso não depende de cargo ou hierarquia. É a única forma de ganhar influência dentro da empresa", afirma.

Essa foi a estratégia usada pelo engenheiro naval Gabriel Oliveira, 25, que entrou no ano passado no programa de trainee do Santander.

Em uma das suas funções, ele precisou sugerir uma nova fórmula para calcular o risco de o banco conceder crédito.

Foi o momento de buscar aliados dentro e fora da sua área para vencer a resistência de quem já estava habituado a fazer as coisas daquele jeito.

"Não somos pares hierárquicos dos outros membros da equipe, então precisamos influenciá-los, mostrando que o projeto é o melhor para a área e para o trabalho", diz.

Esse senso de iniciativa é cada vez mais encorajado, aponta Vanessa Lobato, vice-presidente de RH do Santander.

"A gente adora quando estagiários e trainees são corajosos e provocativos", diz.

Para arriscar mais, o novato precisa conhecer a empresa a ponto de saber quais condutas são mais valorizadas.

Ele deve ficar atento para entender como as pessoas agem e quais palavras usam, diz Wilma Dal Col, diretora da consultoria ManpowerGroup, de recursos humanos.

"Já vi pessoas venderem uma ideia como ousada e ouvirem do interlocutor que essa era uma palavra inadequada naquela empresa. Sempre há um código, mesmo informal, a ser respeitado."

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 21-08-2018, 16h00: PROGRAMAS DE ESTAGIO E TRAINEE. Gabriel Oliveira, 25 anos, engenheiro e estagiário do Banco Santander desde 2017. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, MPME) ***EXCLUSIVO FSP***
O engenheiro Gabriel Oliveira, 25, trainee em 2017, na tesouraria do Santander, em São Paulo

O passo seguinte é se planejar, e isso vai além de montar uma planilha ou cronograma.

"Sem saber com quem preciso falar e quanto tempo levo para estruturar o projeto, a chance de esbarrar em problemas evitáveis aumenta", diz a ex-trainee Ana Naressi.

Às vezes não tem jeito, o erro acontece. Mas as empresas têm visto esses equívocos como parte do aprendizado em vez de apenas um custo extra, afirma Adriana Rillo, diretora de RH da Saint-Gobain.

Um dos estagiários de Renata cometeu um erro em um material de marketing. Quando ela notou a falha, perguntou o que aconteceu para a gerente, gestora do jovem.

"Ele ouviu a conversa e veio explicar que o erro era dele. Demonstrou responsabilidade e chamou atenção", conta.

Organizações mais tolerantes com erros contratam melhor e mantêm esses novatos motivados, segundo Adriana.

É vantajoso para os dois lados, já que a finalidade do estágio e do treinamento é criar lideranças na empresa, diz Paula Esteves, sócia da consultoria de RH Cia de Talentos.

"Por isso muitas organizações pedem que eles criem projetos, por exemplo. Surgem ali ideias boas e de baixo custo", afirma.

Pelo mesmo motivo, é comum que esses jovens passem por diversas áreas antes do fim do programa.

É uma chance de conhecer novos setores antes de consolidar seu caminho na profissão, afirma Joel Dutra, doutor em administração e professor da FIA (Fundação Instituto de Administração).

"O jovem leva cerca de três anos para se definir como profissional. Não pode ter medo de abalar as convicções que trouxe da faculdade."

Publicidade
Publicidade
Publicidade