Aos 78 anos, Lícia Maria Pacífico quer comodidade. Ela levanta e pede café no quarto. Desce as escadas e escolhe entre uma partida de buraco com os amigos ou aula de hidroginástica. Depois do almoço, a pedida pode ser uma sessão de cinema ou uma leitura na biblioteca.
Pacífico é uma das moradoras do Residencial Santa Catarina, empreendimento construído em uma travessa da avenida Paulista, no centro de São Paulo, especialmente para idosos.
Um dos pioneiros no setor, o condomínio tem 121 unidades mobiliadas de 38 m² ou 42 m². Todos os apartamentos são adaptados com barras de apoio e quatro pontos de chamadas de emergência, que acionam uma equipe à disposição 24 horas.
Há ainda áreas de lazer que incluem piscina e sala de jogos, comodidades de hotel (cinco refeições diárias, limpeza nos apartamentos) e suporte médico com administração de medicamentos, controle de sinais vitais, enfermeiros e geriatras.
Cada morador paga mensalidade a partir de R$ 14 mil para ter acesso aos serviços.
"Tenho meu apartamentinho onde tudo é oferecido, e sem preocupação com absolutamente nada", diz Pacífico, que se mudou do Morumbi para o residencial há um ano, depois de ficar viúva.
Sua vizinha Lilly Grossmann, 94, trocou sua casa pelo apartamento há cinco anos. "Aqui, é como se eu tivesse na minha casa, mas com mais conforto", afirma.
A ideia do empreendimento nasceu da percepção do aumento da população acima dos 65 anos no Brasil.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de pessoas nessa faixa etária deve chegar a 58,4 milhões, 26,7% do total, em 2060.
"Buscamos informações sobre como montar um residencial com serviços exclusivos e local adequado para esse novo público, com opções de lazer e próximo a grandes hospitais e clínicas", conta Fernando Nunes de Brito, gerente financeiro do prédio.
O bairro de Perdizes, na zona oeste, deve ganhar até maio do próximo ano dois empreendimentos customizados para os mais velhos.
O VN Perdizes, da construtora Vitacon, terá 64 apartamentos, com plantas de 35 m², 42 m² ou 70 m². Os imóveis terão portas com vãos maiores, barras de apoio nos banheiros, piso antiderrapante e botão de alarme. Os moradores poderão optar por usar pulseiras que monitoram os sinais vitais.
"O bairro tem esse perfil de moradores de terceira idade, com alto poder aquisitivo e dispostos a pagar por esse serviço", diz Alexandre Lafer Frankel, da Vitacon.
O prédio adotará sistema de "pague o que usar" para serviços de cuidadores, fisioterapeutas e outros profissionais especializados, com atendimento 24 horas. No térreo haverá lojas e restaurante. O condomínio ficará em torno de R$ 580 mensais.
Até o fim do primeiro semestre de 2017, a Vitacon iniciará as obras de mais duas unidades semelhantes, em Higienópolis e nos Jardins.
VELHICE ATIVA
Outra construtora que investe no setor é a Tecnisa: lançará o Senior Living dentro de seu megaempreendimento Jardim das Perdizes.
A torre terá unidades de um e dois dormitórios por R$ 18 mil o m². O acabamento incluirá barras de apoio, maçanetas especiais e corrimões adaptados.
Nos apartamentos, botões acionarão serviços de médicos e cuidadores. Uma ambulância ficará disponível na garagem, para emergências.
No espaço comum do edifício haverá consultórios médicos, laboratórios, salão de beleza, cinema, lavanderia e um espaço gourmet para eventos de família.
"As pessoas estão vivendo mais, querem envelhecer de forma ativa. A ideia é um local de atividades e socialização, como um resort, e não um asilo", diz Joseph Nigri, vice-presidente da Tecnisa.
Não há restrição de idade para compra, mas a expectativa das construtoras é de que a maioria dos imóveis seja vendida para idosos com mobilidade reduzida.