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litoral e interior

Após 128 anos, Jundiaí faz as pazes com a sua ponte torta

Em 1888, Jundiaí, a 49 km de São Paulo, inaugurava o que seria um de seus principais símbolos.

Patrimônio arquitetônico local, a Ponte Torta parece, à primeira vista, não "conversar" com o seu entorno -a rua Doutor Odil Campos Saes, uma das mais movimentadas da cidade.

Seus 50 mil tijolos distribuídos em um bloco de 17 metros de altura por 8 metros de comprimento, que formam um arco sobre o rio Guapeva, contrastam com a paisagem de concreto e asfalto.

Marco da urbanização no final do século 19, serviu para encurtar o transporte de cerâmica, que era feito em bondes de tração animal, entre a Companhia Judiahyense e a estação de trem.

Acervo / Prefeitura de Jundiaí
'Ponte Torta' na sua configuração original, quando ainda era usada por pedestres em Jundiaí
'Ponte Torta' na sua configuração original, quando ainda era usada por pedestres em Jundiaí

"Ela funcionou assim até 1897, quando o transporte por bondes parou. Depois disso, ganhou degraus e foi aberta à população", diz o sociólogo José Arnaldo de Oliveira, que pesquisa a história da ponte de Jundiaí.

Ninguém sabe afirmar ao certo em que momento a estrutura entrou em decadência. As mudanças urbanísticas só aceleraram esse processo, conta Daniela Sutti, secretária de Planejamento e Meio Ambiente de Jundiaí.

As sucessivas enchentes do Guapeva forçaram a prefeitura a alargar a margem do rio e a ponte ficou meio "manca", com um de seus braços dentro do curso d'água. "Ela também perdeu a terra de suas encostas e isso acentuou seu desuso", afirma Sutti.

Na década de 1980, a ponte chegou a ser alvo de um movimento organizado por moradores que exigia a sua demolição.

Mas, tendo sobrevivido, anos depois foi repaginada. Em 2015, a Prefeitura de Jundiaí desembolsou cerca de R$ 780 mil para restaurá-la.

O projeto, assinado pelo especialista em conservação Antônio Sarasá, levou seis meses. "A ponte estava muito degradada. Ela só servia como ninho para pombos", diz Sarasá. Durante a obra, uma sala de aula montada numa carreta percorria vários pontos da cidade para recontar a história do monumento.

Reinaldo Canato/Folhapress
Restaurada, estrutura vira monumento e ganha praça em Jundiaí
Restaurada, estrutura vira monumento e ganha praça em Jundiaí

Uma das lições dessas aulas era sobre o nome da estrutura -que não é torta. "A ponte ficou conhecida como 'Torta' por causa do apelido de uma rua que passava sobre ela e que era realmente torta", afirma a secretária de Planejamento e Meio Ambiente, Daniela Sutti. E completa. "Ela foi construída por um engenheiro italiano. Jundiaí atraiu muitos imigrantes nessa época. A história dela proporcionou esse resgate."

O entorno da estrutura, antes tomado por lixo e mato, também foi revitalizado e virou uma praça, com palco para eventos culturais.

Toda a iniciativa recebeu uma menção honrosa, no início deste ano, no prêmio Domus, da universidade de Ferrara, na Itália, que destaca projetos internacionais de restauro.

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