Publicidade

paulista/centro

ANÁLISE

Oscar freire é retrato do consumo bipolar do país

De vitrine da riqueza a centro de consumo de massa, a Oscar Freire resume as transformações pelas quais o mercado da moda passou nas últimas duas décadas no país.

Típica jabuticaba, não há rua no mundo equivalente à sua vocação de aorta do "quadrilátero do luxo", aqui uma linha imaginária entre a avenida Rebouças, a rua Estados Unidos, a Paulista e a alameda Casa Branca, que tanto dá espaço a joalherias quanto a um ateliê de consertos.

O bairro está sempre em transição. Ainda se espalhapelas ruas a alfaiataria do século passado. Pelas galerias da Augusta e da Lorena, mestres da tesoura se amontoam entre lojas de roupa urbana.

Alfaiates se juntam também aos tapumes da ala nobre, trecho de artérias próximas à rua Estados Unidos que até o início da década abrigavam Louis Vuitton, Dior e, ainda no mês passado, Versace. Os tampões se erguem como produtos da especulação imobiliária derrotada pelo poder de fogo dos shoppings de luxo e a queda no consumo de roupas.

Voltando no tempo: a manada de marcas que se instalou ali foi atraída pelo sucesso, nos 1990, dos primeiros pontos da francesa Cartier e da grife alemã de acessórios Montblanc. Os números estratosféricos das vendas da época eram novidade impulsionada pela elite viajante.

A projeção do Brasil ajudou a posicionar a Oscar Freire no ranking das ruas mais luxuosas do mundo, atraindo empresários dispostos a pagar "luvas" exorbitantes por um pedaço do paraíso.

O turismo na Oscar Freire chegou a 33 mil visitas diárias em 2008. Os pontos comerciais foram ocupados por marcas com produção de larga escala. Nike, Havaianas e Melissa, além das varejistas Forever 21 e Riachuelo, dominam até hoje o desfile de sacolas nos fins de semana.

Do olimpo das grifes globais restam menos de dez, e o "quadrilátero do luxo", de acordo com a Associação dos Lojistas dos Jardins, virou "quadrilátero do charme".

Hoje há galerias de arte e pequenas grifes de autor, como Apartamento 03 e Cotton Project, todas alocadas em espaços concisos. Em maio, uma feira de produtos orgânicos deve tomar corpo no cruzamento da Consolação com a Oscar.

Meio hipster, meio vintage, meio "fitness", meio metido, o quadradinho é eclético, dança com a maré e pinta um quadro fidedigno do consumo bipolar do país.

Publicidade
Publicidade
Publicidade