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paulista/centro

Frequentadores da praça Roosevelt fazem exercício diário de democracia

O espaço público como um lugar de disputa, de (des)equilíbrio de forças, de desejos muitas vezes contraditórios. Assim é a praça Franklin Roosevelt, entre as ruas Augusta e Consolação.

"Existem diferentes tipos de convivência aqui", diz a stylist Bruna Sampaio, 26, que estava na praça com seu filho no domingo, dia 9 de abril. Moradora da região, ela leva Bernardo, 4, para passear ali quase diariamente.

"Quero incentivá-lo a não ter medo da rua. Aqui tem gente de poderes aquisitivos diferentes, tem morador de rua, tem o jovem que vem beber", afirma. No mesmo momento, a poucos metros dali (e não muito longe da base da Polícia Militar), um jovem agredia um morador de rua.

"Isso acontece com certa frequência. É muito triste. Mas não é o policiamento que vai mudar", diz Bruna.

Mais adiante um grupo de jovens toca uma canção do Guns and Roses no violão. Morador de Interlagos, o estudante Fernando Guerra, 18, chega a passar quase duas horas no transporte público para poder cantar com os amigos na praça.

"Quem curte andar de skate anda, quem curte fazer um som faz. Todo mundo faz o que gosta e fica um ambiente legal", afirma Guerra.

Geralmente as rodas violão adentram a madrugada. E muitas vezes acabam atrapalhando o sono de moradores dos prédios em frente, como Ilsa Helena Carvalho Santos, 61, que mora há 37 anos no segundo andar. "Não sou contra ninguém se divertir,. A praça é do povo, mas tem que haver respeito, tem que deixar as pessoas dormirem."

Marcos Martins, 51, morador do 21º andar, também reclama. "À tarde os skatistas tomam conta da praça e, à noite, a calçada fica uma muvuca, tenho que pedir licença para entrar no prédio", diz.

De fato, depois da reforma em 2012, o novo piso, amplo, liso e cheio de bordas, foi um convite irresistível a skatistas. "Skate é família", diz o estudante Davi Santana, 15, morador do Capão Redondo, que aproveita a tarde do domingo para se divertir com seu amigo Renildo Gomes, 17.

Gomes frequenta a praça desde a reforma. "O ambiente é calmo, ninguém mexe com ninguém", diz. O estudante Pedro Big, 17, também vem da periferia. "Aqui é um lugar bonito, a gente tem outra percepção da cidade."

Já o skatista Yuri Queiroz, 20, afirma que já viu muito conflito entre moradores, polícia e skatistas, mas, segundo ele, as coisas melhoraram depois de uma reunião com os moradores no ano passado. "Agora ninguém mais anda de skate depois das 22h."

Nos finais de semana, a escadarias e calçadas são tomadas pelos boêmios e artistas, que passam a noite na praça, antes ou depois de algum espetáculo teatral, ou simplesmente flanando para encontrar antigos e novos amigos.

Formada na SP Escola de Teatro, que fica na praça desde 2012, a atriz Bruna de Moraes, 24, diz que não tem como pensar em teatro em São Paulo sem pensar na Roosevelt. "É o lugar onde está o maior núcleo teatral", diz.

Embora o ambiente de calmaria seja o mais comum, desde a reforma, muitas intervenções da Polícia Militar já ocorreram na praça. Anne Ramos, 37, administradora do Espaço Parlapatões, diz ter presenciado ao menos quatro casos nos últimos meses, como no Carnaval.

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