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Aldeia de Carapicuíba guarda memória dos jesuítas

"Está ella (...) em hum sitio alegre por natureza, abundante de agoas." Essa é a descrição da Aldeia de Carapicuíba feita pelo padre Manuel da Fonseca (1911-1993) no livro "Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes" (Melhoramentos, 1932).

O padre Belchior teria vivido com os índios guaianazes na aldeia, fundada por volta de 1580. O lugar fazia parte do projeto de catequização dos índios da região que contava com mais 11 aldeias fundadas pelo padre Anchieta (1534-1597), como Barueri, Itapecerica e Pinheiros.

Em formato quadrangular com uma cruz ao centro, típico das construções jesuíticas, a aldeia tem uma igreja de 1736, com três paredes de taipa de pilão remanescentes do século 16. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1940, esse conjunto de casas também abriga a Secretaria de Cultura de Carapicuíba.

Luís Dávila/Vila Imagem
Igreja de 1736 na Aldeia de Carapicuíba, na Grande São Paulo
Igreja de 1736 na Aldeia de Carapicuíba, na Grande São Paulo

É a única das 12 aldeias de catequese de São Paulo que sobreviveu ao tempo e à explosão demográfica.

Passados mais de 400 anos, o local sedia diversos eventos ao longo do ano. A Festa da Santa Cruz, realizada em maio, é a mais famosa delas. Em sua origem, os padres se apropriaram da dança sarabaque praticada pelos guaianazes em torno da fogueira para usar na catequização.

Há ainda algumas pessoas que moram nas casas geminadas do centro tombado.

É o caso da bióloga Dalva Tolomony, 55. Seus antepassados são parentes de um jesuíta francês que viveu ali em 1769. Em uma das salas, ela tirou o reboco da parede e colocou um vidro para exibir o barro socado entre as vigas de madeira.

"Para morar aqui tem que ser artista", diz Tolomony, que viveu muitos anos sem luz elétrica e com água do poço.

Há três anos, Evanilton da Silva Lima, 46, o Tota, abriu na praça histórica o bar Oca dos Malucos, que recebe bandas de rock ao vivo e motociclistas para curtir a noite.

Às quartas e quintas, às 19h, ele abre seu espaço para aulas gratuitas de capoeira para crianças e jovens. "Trouxemos vida para a aldeia", diz Lima.

"Há dez anos, aqui era muito violento, não dava para andar sozinho à noite", diz o músico e educador Paulo Blec, 31. Aos 11 anos, ele começou a frequentar a Oca Escola Cultural, uma ONG que atua na região há 21 anos.

A sede da ONG fica dentro do Parque Ecológico Aldeia de Carapicuíba e atende cerca de 180 crianças.

No próximo dia 17, a partir das 18h, a Oca organiza uma festa junina no centro histórico da aldeia.

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