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Zona Oeste

Casarões de Perdizes, maioria do início do século 20, são tombados

Neste mês, o bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, teve 34 imóveis tombados para preservação. São, na maioria, casarões há anos ocupados pelo comércio. Boa parte foi erguida na primeira metade do século 20.
No lote tombado, há apenas um edifício residencial, na rua Cândido Espinheira.

A aprovação do tombamento ocorreu no último dia 12, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
Iniciado há nove anos a pedido do Movimento Perdizes Vivo (Mopevi), o processo foi encerrado às pressas. A Lei de Zoneamento de 2016 instituiu limite de dois anos para que esse tipo de decisão seja tomada -e o prazo expiraria na quinta passada (22).

"O bairro passou por um processo acelerado de expansão e o tombamento busca preservar os poucos remanescentes [da época]", diz Melissa Ramos da Silva Oliveira, docente da faculdade de arquitetura e urbanismo da Anhembi-Morumbi e coordenadora do Laboratório de Patrimônio e Preservação, ligado à universidade.

Com exceção do Colégio Santa Marcelina, na rua Cardoso de Almeida, e de um único casarão na rua Turiassu, que devem ser preservados por dentro e por fora, todos os demais tiveram apenas a fachada tombada.
Em alguns imóveis, porém, já é difícil enxergar qualquer traço da arquitetura original.

Um exemplo é o número 436 da rua Homem de Melo, onde funciona o restaurante Sushibol –a casa só entrou no rol de tombamentos, segundo o processo do Conpresp, porque é geminada com a sede da barbearia Garagem, mais preservada.

O processo que o Conpresp acaba de deferir era ainda maior. Em ofício de 11 de fevereiro de 2009, o representante do Mopevi, Ari Trindade, pedia a proteção do bairro inteiro, a exemplo do que já acontece com o Pacaembu.

Trindade alegou que o tombamento de casas isoladas não era suficiente para garantir a qualidade de vida dos moradores.

"Ao lado de uma pequena construção protegida poderá surgir um edifício de cem metros de altura, comprometendo todo o conjunto da quadra, do bairro e da paisagem", redigiu em carta dirigida ao Conpresp.

O órgão, no entanto, considerou a proposta extensa demais e concentrou o estudo no perímetro classificado como mais preocupante: a região próxima ao Parque Água da Branca, entre as ruas Cardoso de Almeida, Germaine Burchard e Caiubi.

Ao todo, 68 imóveis foram inventariados, mas só 34 constam da resolução final.

Alguns saíram da lista porque, nesse intervalo de tempo, viraram pó. Entre eles, um conjunto de sobrados dos anos 1940, na rua Monte Alegre, e um casarão do fim do século 19, na rua Turiassu. No lugar, já foram construídos dois espigões.

Os imóveis foram demolidos depois que o processo de tombamento havia sido iniciado, o que é proibido sob pena de multa.

Outros endereços tiveram destino melhor. O casarão neocolonial na esquina das ruas Turiassu e Capitão Messias, erguido antes de 1930, passou por uma rigorosa reforma e exibe boa parte dos traços originais. A obra foi conduzida pela atual inquilina, a pizzaria Veridiana.

Mesmo destino teve a última casa térrea que restou na rua Cardoso de Almeida, antiga rua Thabor, uma das primeiras artérias abertas no bairro. Construído entre 1910 e 1920, o imóvel de esquina foi remodelado em 2011 para abrigar o restaurante DiBaco -agora vago, pode ser alugado por R$ 22 mil mensais.

A proprietária, Lourdes de França Chaves, diz ser favorável ao tombamento, mas com ressalvas. "Tombada ou não, minha casa seria preservada. Mas acho justo que os proprietários tenham algum incentivo, pois estamos cuidando de um bem da cidade. Este ano, pagamos R$ 21 mil de IPTU", reclama.

O arquiteto Eduardo Della Manna, diretor-executivo da vice-presidência de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Secovi-SP, concorda com Chaves.

"O simples tombamento não garante a preservação. É importante haver incentivos significativos para que os proprietários possam requalificar e conservar o imóvel."

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