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Veja se a bagunça da sua casa é OK e defina metas realistas de organização

Bagunça também é bom. De vez em quando, faz bem ter louça suja na pia ou roupa jogada no chão.

Isso é positivo por mostrar um morador que não é escravo da casa, "que não precisa de tudo perfeito o tempo inteiro", diz Sergio Ishara, psiquiatra do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, ligado à USP (Universidade de São Paulo).

Há, porém, uma cobrança social para consertar os bagunceiros. "Vivemos no mundo dos imperativos, é preciso ser bem sucedido, performático, feliz e organizado. E não faltam especialistas para dizer como devemos sê-lo, com suas normas e técnicas", critica a psicanalista Cristina Marcos, professora de psicologia da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica).

Em geral, regras de organização desconsideram que aquilo que é bagunça para um pode não ser para outro. "Um sujeito pode, sim, se encontrar na desordem e saber suportá-la, como pode se perder nela", diz a psicanalista.

Assim, a velha justificativa "eu me acho na minha bagunça" pode fazer sentido. Uma mesa aparentemente desorganizada costuma ter uma lógica própria, que é destruída quando arrumada por outro, diz o psicanalista Leonardo Luiz, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

"Toda vivência em um espaço, ainda mais com pessoas de diferentes faixas etárias, traz um nível de bagunça que deve estar dentro de parâmetros saudáveis e respeitando hábitos de higiene, afirma Helio Deliberador, professor de psicologia social da PUC-SP.

Há duas maneiras de perceber se a bagunça está extrapolando os limites, de acordo com Ishara. Primeiro, quando atrapalha a rotina, fazendo com que o indivíduo se sinta mais confuso e com dificuldade de encontrar coisas importantes. Segundo, quando incomoda quem convive com ele.

Keiny Andrade/Folhapress
Calçadão Urbanoide na rua Augusta
Os músicos Isa Salles, 26, e Leo Ramos, 30, em seu apartamento na zona sul de São Paulo

Em vez de dar ouvidos às reclamações dos outros, os músicos Isa Salles, 26, e Leo Ramos, 30, resolveram unir e multiplicar as suas bagunças há dois anos.

Sem divisórias, o apartamento de 29 metros quadrados do casal, na zona sul de São Paulo, não permite esconder a desordem quando as visitas aparecem por lá.

Criada em uma família de organizados, Isa estava acostumada a ser repreendida por espalhar suas roupas. Leo era cobrado pelos colegas de república, que chegaram a deixar panela suja na porta do quarto dele para obrigá-lo a lavá-la.

Encontraram um no outro a compreensão de que precisavam. "Se um de nós dois fosse organizado, ia dar briga", afirma Leo. "Nossa bagunça tem controle. As pessoas se assustam, mas para a gente é normal", completa Isa.

Aliás, estar com tudo no lugar é um peso para ela, não um alívio. "Fico neurótica se não puder desarrumar nada. Aí, a casa deixa de ser um lar", diz.

Diferentemente do casal, Marina Mesquita, 24, não sente nenhum orgulho em ser bagunceira. "Causa um certo incômodo em mim, e muito mais nas pessoas do meu convívio", afirma a publicitária, que mora com os pais no Tatuapé, bairro da zona leste.

De vez em quando, ela dá uma boa ajeitada no quarto, mas tem dificuldade em manter tudo em ordem no longo prazo. "Acredito que o motivo seja porque tenho muita coisa para pouco espaço, diz.

Para que o esforço dê frutos, o primeiro passo é saber diferenciar arrumação de organização, explica a organizadora pessoal Ingrid Lisboa.

Arrumar é apenas resolver o problema estético da bagunça, guardando, por exemplo, todas as fotos antigas da casa em uma caixa. Já organizar é agrupar todos os itens de uma mesma família, como separar os retratos em pastas por ano -o que dá mais trabalho, mas facilita o acesso e a manutenção.

"Organização é ter tudo de forma prática, funcional e visível. Se para achar algo eu tiver que procurar, já é bagunça", afirma Ingrid.

Para os iniciantes, a recomendação é não tentar organizar a casa toda de uma só vez. "É como tentar passar de alguém que não sabe cozinhar para um cozinheiro profissional em um fim de semana. Não funciona", diz.

O melhor, segundo ela, é dividir o trabalho em pequenas metas que, assim, ficarão mais fáceis de serem cumpridas. O bagunceiro pode separar uma manhã para organizar a despensa e, no dia seguinte, partir para a geladeira.

Outra sugestão é começar pelas partes mais visíveis da casa –em que o resultado aparente dará mais estímulo para continuar– e onde o apego pelos objetos é menor.
Se a pessoa ama sapatos e iniciar a organização pela sapateira vai ter dificuldade de se livrar do que não usa mais, e a coisa não vai para frente.

Aqueles objetos organizadores ajudam a setorizar os itens dentro do armário ou das gavetas, mas o ideal, antes de sair comprando, é primeiro mexer na bagunça para entender quais e quantos organizadores serão necessários.

O importante é que a pessoa estabeleça uma meta de organização possível para a sua realidade. Também não é preciso se preocupar o tempo todo em não desarrumar nada.

Uma casa organizada não é aquela em que tudo está no lugar certo o tempo todo, mas, sim, uma em que as coisas têm para onde voltar.

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