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Como um imigrante arruinado criou império de comida latina nos EUA investindo US$ 1

Ele estava completamente arruinado. Os credores não paravam de bater à sua porta. Sem um dólar no bolso, a vida de Prudencio Unanue estava em uma encruzilhada nos Estados Unidos. Com quatro filhos para sustentar, o imigrante espanhol tinha de fazer algo para sair do fundo do poço em que se encontrava depois de ter fracassado em seu humilde negócio de exportação de rádios.

Divulgação Goya
A Goya Foods se tornou se tornou o maior império de comida latina dos EUA

Foi então que um amigo sugeriu que ele vendesse o mais rápido possível um carregamento de 500 caixas de sardinhas do Marrocos.

"As caixas vinham com uma etiqueta em que estava escrito 'Goya'", disse à BBC Mundo Joseph Pérez, vice-presidente da Goya Foods, empresa que se tornou o maior império de comida latina nos Estados Unidos.

O nome pareceu perfeito para Prudencio: era simples e fácil de pronunciar em espanhol e inglês. Então, ele decidiu que batizaria assim sua nova empreitada comercial e comprou a marca por US$ 1 (o equivalente a US$ 18 em valores corrigidos).

Naquele dia, nasceu um gigante que fatura hoje mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 5,6 bilhões) por ano, de acordo com dados da empresa, e vende alimentos de origem hispânica, como feijão, arroz, carne enlatada e frutos do mar, condimentos, queijo, azeite e até pratos congelados.

Empresa cresceu atendendo a 'nostalgia' dos imigrantes

Como muitos dos imigrantes em busca do "sonho americano", Prudencio Unanue e sua esposa desembarcaram em Nova York em 1921, a partir de Porto Rico. A família migrou da Espanha para a ilha nos primeiros anos do século 20.

Divulgação Goya
Prudencio Unanue e sua esposa desembarcaram em Nova York em 1921

Eles se instalaram no bairro latino do Harlem e, depois de passar vários anos em dificuldade, fez em 1936 o melhor investimento de sua vida: comprou uma empresa falida, a Sevilha Packing Company, e a marca Goya.

Começou a importar produtos da Espanha, como azeitonas e azeite, para vender aos expatriados espanhóis. O negócio se expandiu rapidamente para a importação de alimentos da América Latina para alcançar outras comunidades de imigrantes.

Após a Segunda Guerra Mundial, uma onda de porto-riquenhos chegou a Nova York para suprir a falta de mão de obra nas fábricas, e Unanue percebeu uma grande oportunidade.

"Ele e sua esposa viram que havia um mercado não atendido, um nicho comercial", diz Pérez, e foi assim que os produtos da empresa começaram a refletir as diferentes ondas de migração.

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Na década de 1960, imigrantes latinos começaram a ganhar espaço em diferentes partes dos EUA

Na década de 1960, chegou a primeira onda cubana e, pouco a pouco, os imigrantes latinos começaram a ganhar espaço nos diferentes Estados do país, e, da mesma forma, os negócios de Unanue começaram a se expandir.

"Entendemos as diferenças de culinária e cultura entre um grupo e outro", acrescenta Pérez.

As campanhas de marketing foram cuidadosamente planejadas para atender o gosto de cada comunidade de imigrantes, levando em conta que a comida é uma das maneiras de se conectarem com sua terra de origem.

A Goya dava uma resposta à "nostalgia" dos que deixaram seus países.

Unanue foi sucedido por seu filho Joe, que herdou o desafio de expandir a Goya internacionalmente e, hoje, a empresa está sob a direção executiva de seu neto, Robert.

Comunidade hispânica tem mais de 55 milhões de pessoas nos EUA

Embora a Goya tenha começado com uma pequena loja em uma rua do sul de Manhattan, mudou-se em 1958 para o Brooklyn e, nos anos 1970, estabeleceu sua sede em Nova Jersey.

Divulgação Goya
De Nova York, a empresa se expandiu para o nordeste do país

O crescimento inicial da empresa se concentrou no nordeste do país –de Boston a Washington– e, depois, se expandiu para Miami. De lá, cresceu para Atlanta, avançando em direção à Costa Leste para alcançar estados como o Texas e a Califórnia.

Nos últimos anos, a Goya abriu cinco fábricas e centros de distribuição no Texas, na Califórnia, na Geórgia e em Nova Jersey, tendo em vista uma comunidade hispânica de mais de 55 milhões de pessoas, segundo o instituto de pesquisa Pew Research Center.

Divulgação Goya
Nos últimos anos, Goya abriu cinco fábricas e centros de distribuição

Com um mercado tão grande e uma variedade tão significativa de origens e tradições culinárias, a empresa vende 85 tipos de feijão, que também mudam de nome de acordo com o mercado.

E, embora no início se dedicasse à importação, a empresa fabrica atualmente a maioria de seus produtos nos Estados Unidos, em Porto Rico, na República Dominicana e na Espanha. O restante é importado de países da América Latina, onde fez parcerias com empresas locais.

O que é a comida latina?

Mas, com tantas comunidades espalhadas pelos Estados Unidos, o que é realmente uma comida latina?

"Comida latina não é uma única, mas uma mistura de diferentes sabores", diz Pérez.

Divulgação Goya
A empresa vende 85 tipos de grãos, que também mudam de nome de acordo com o mercado

Por exemplo, em Miami, predomina o paladar cubano, venezuelano ou colombiano, enquanto, em Los Angeles, a Goya vende produtos mais voltados à comunidade mexicana e aos imigrantes da América Central.

Em Nova York, dada a mistura de imigrantes, a variedade de produtos é grande, embora o foco sejam consumidores porto-riquenhos, dominicanos, mexicanos e equatorianos.

"Há algo de fascinante nisso tudo. Uma pessoa pode ser hispânica ou latina, mas pode ser de origem cubana-porto-colombiana-equatoriana."

É por isso que não é estranho imaginar que a culinária latina esteja seguindo em direção à uma mistura de sabores, conhecida como "fusão latina", uma resposta à evolução migratória e culinária, que a Goya estudou de perto para cultivar uma marca que já chegou a valer apenas US$ 1.

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