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Na Rio-16, golfe olímpico sofre do mesmo problema que o tênis em Seul-1988

A lista de inscritos para o torneio de tênis da Olimpíada do Rio foi anunciada na quinta-feira (30) e representa contraste interessante com os anúncios que continuam a chegar da parte dos maiores golfistas mundiais.

Jason Day, que lidera o ranking mundial, e Rory McIlroy, o quarto colocado do ranking, decidiram não participar dos Jogos do Rio, citando preocupação com o vírus do zika. Alguns outros golfistas, como Adam Scott, campeão do Masters, já haviam feito anúncios semelhantes. Scott e os demais expressaram o sentimento de que o golfe já oferece muitos desafios a superar, e que não necessitam de uma Olimpíada para aumentar ainda mais a carga.

"Compreendo o raciocínio, mas eu ficaria chocado se, em Tóquio em 2020, o golfe não atrair os melhores golfistas à Olimpíada", disse Brad Gilbert, antigo astro do tênis norte-americano, na quinta-feira. "É como se a primeira edição pudesse ser desconsiderada".

Gilbert está bem posicionado para falar sobre essa evolução. Ele conquistou uma medalha de prata na simples masculina do tênis em Seul, Coreia do Sul, em 1988, quando o esporte retornou à Olimpíada valendo medalha. Ele diz que essa é uma de suas melhores lembranças. Mas a medalha foi conquistada em um torneio ao qual muitos dos líderes do ranking mundial do tênis não compareceram.

Apenas três dos tenistas mais bem posicionados no ranking naquele ano –o sueco Stefan Edberg, o norte-americano Tim Mayotte e Miroslav Mecir, da então Tchecoslováquia– jogaram em Seul. Mecir ficou com o ouro e Mayotte, com a prata. Edberg e Gilbert, que ocupava o 15º posto no ranking, ganharam cada qual uma de medalha de bronze, o que não é mais possível, porque agora existe uma partida para essa disputa.

Como no caso do golfe, que participou de uma Olimpíada pela última vez em 1904, o tênis estava retornando aos Jogos Olímpicos em 1988 depois de um longo hiato –sua última participação na Olimpíada como torneio que vale medalha havia sido em 1924.

De forma semelhante aos golfistas atuais, alguns tenistas estavam céticos, em setembro de 1988, preocupados com sua segurança e determinados a guardar energia para desafios mais estabelecidos.

"O que está acontecendo hoje com o golfe é bem parecido com 1988", disse Gilbert. "Muitos dos tenistas não estavam seguros, então, e havia algumas preocupações de segurança em Seul".

Mats Wilander, então líder do ranking, vencedor de três títulos de simples em torneios de Grand Slam naquele ano, não jogou a Olimpíada, embora sempre tenha defendido zelosamente a Suécia na Davis. O número quatro do ranking, Andre Agassi, que ganharia ouro na simples nos jogos de Atlanta, em 1996, em um momento que ele mais tarde definiria como um dos mais gratificantes de sua carreira, também decidiu ficar de fora em 1988.

Gilbert era seu treinador, em 1996.

"Quando Andre me perguntou qual era o maior arrependimento de minha carreira, eu disse que, se pudesse mudar uma coisa e uma coisa só, seria transformar aquela medalha que ganhei em ouro", disse Gilbert. "E Andre basicamente planejou todo o seu ano em torno da Olimpíada de 1996".

Esse comprometimento da parte dos superastros deve parecer um sonho distante para os líderes do golfe, a esta altura, ainda que seja importante apontar que as líderes do ranking no golfe feminino não tenham abandonado os Jogos do Rio.

"Creio que elas veem os jogos como um grande empurrão para o golfe feminino", disse Peter Dawson, presidente da Federação Internacional de Golfe, em entrevista recente.

As estrelas do tênis adotaram posição semelhante em 1988, quando oito das dez mais do ranking jogaram, entre as quais Steffi Graff, que havia completado o Grand Slam ao vencer os quatro maiores torneios do tênis feminino naquele ano. Graff também venceu em Seul, completando o Golden Slam.

Mas quando chegaram os Jogos de 1992, em Barcelona, homens e mulheres estavam pensando mais ou menos a mesma coisa. Oito dos dez mais do ranking masculino jogaram a Olimpíada daquele ano, entre os quais os quatro primeiros. Pete Sampras, o maior dos campeões do tênis masculino nos anos 90, participou, embora tenha sido derrotado na terceira rodada e jamais participado de outra Olimpíada.

"Hoje você vê alguém como Andy Murray e Roger Federer e sabe o esforço deles para ganhar uma medalha de ouro", disse Dawson. "A coisa mudou. Acho que o mesmo acontecerá no golfe, e que no golfe a mudança virá mais rápido".

É essencial que sua previsão se confirme se o golfe deseja se manter na Olimpíada por muito tempo. O COI (Comitê Olímpico Internacional) quer adotar uma abordagem menos rígida quanto ao programa olímpico, ajustando-o às eras e aos hábitos. Golfe masculino sem a presença de jogadores como Day e McIlroy não é um espetáculo de primeira linha.

O zika e o clima intensamente negativo quanto aos Jogos do Rio, com todos os seus desafios socioeconômicos e políticos, certamente influenciaram muito as atitudes. Mas é difícil imaginar que os mesmos golfistas que desistiram de competir no Rio abandonassem uma disputa por motivo de saúde ou pela minúscula probabilidade de contrair o zika se o que estivesse em jogo fosse a Ryder Cup ou um dos torneios Masters.

"Eles jogariam, mas ainda assim haveria causa para medo", diz Jay Berger, treinador da equipe olímpica de golfe masculino dos Estados Unidos em 2016.

Daniel, o filho de Berger, é um dos melhores golfistas do mundo. Ele venceu seu primeiro torneio da PGA Tour em junho, o St. Jude Classic, embora não tenha se qualificado para a talentosa equipe norte-americana, que até agora não viu qualquer retirada importante da Olimpíada, ainda que Jordan Spieth esteja claramente vacilante.

A despeito da plena aceitação olímpica pelo mundo do tênis, porém, o melhor jogador norte-americano do momento, John Isner, não participará da Olimpíada. Ele justificou sua retirada, anunciada meses atrás, citando seu desejo de se concentrar no circuito profissional masculino, na Davis e no Aberto dos EUA, que começa duas semanas depois da decisão do torneio olímpico de tênis.

Sam Querrey também não vai participar. Isso significa que os quatro tenistas norte-americanos que jogarão a simples olímpica, selecionados provisoriamente na quinta-feira, serão Jack Sock, Steve Johnson, Denis Kudia e Brian Baker.

Baker, 31, ocupa o 589º posto no ranking da ATP, no momento, porque está se recuperando da mais recente em uma série de lesões graves; sua posição protegida no ranking é a 56ª. Isso o colocou na equipe, deixando de fora o promissor Taylor Fritz, 18.

"Para começar, Brian é uma grande pessoa e as regras determinam que o tenista pode usar seu ranking protegido; nós apoiamos a presença de Brian", disse Berger. "Creio que os jogadores respeitam Brian e as dificuldades que ele vêm superando".

Baker ficou de fora por pouco da equipe olímpica norte-americana em 2012. "Por questão de semanas", ele declarou em entrevista recente. "Eu não estava em posição alta o bastante no ranking no momento da seleção, e conseguir participar agora seria incrível".

Ele se unirá a quase todos os astros estabelecidos do esporte. O único integrante do atual top 10 que não participa da lista provisória anunciada quinta-feira é o jovem austríaco Dominic Thiem. Rafael Nadal, que carregará a bandeira da equipe olímpica espanhola na cerimônia de abertura dos jogos do Rio caso se recupere em tempo de uma lesão no pulso, consta na lista, mas ainda precisa obter aprovação da Federação Internacional de Tênis, em 15 de julho, porque não cumpriu os requisitos para participação na Copa Davis, até o momento.

A única integrante do top 30 do tênis feminino que não participará dos jogos do Rio é Flavia Pennetta, que tem uma ótima desculpa: encerrou sua carreira.

Nenhum dos líderes do golfe mundial tentou usar a mesma desculpa até agora.

Esporte - Golfe

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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