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Diretor do COB diz que ficar abaixo do top 10 de medalhas não será fracasso

Os Jogos do Rio começam em 16 dias, mas o diretor executivo de esportes do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Marcus Vinícius Freire, 53, afirma já saber o que vai falar em 22 de agosto. Um dia após o término deles.

"Os atletas tiveram tudo", diz o ex-jogador de vôlei, medalhista de prata em Los Angeles-1984. "Durmo tranquilo porque o que tinha que ser feito foi. Agora é no detalhe."

Além do vice-campeonato olímpico nos EUA, ele foi ouro no Pan de Caracas, em 1983. Ao longo da carreira, atuou em diversas equipes do vôlei nacional (como Flamengo, Botafogo, Atlântica Boa Vista) e na Itália.

Depois de encerrar a carreira, no início dos anos 1990, trabalhou em bancos como Boavista e Banco de Crédito Nacional e em corretoras de seguros.

Marcus Vinícius comenta a ascensão da Holanda como potência olímpica e reitera a meta do Brasil de ficar entre os dez melhores no quadro de medalhas, pelo total de conquistas. "Sempre dissemos que [a meta] era factível, mas muito difícil", diz. Ele não desconsidera, contudo, a possibilidade de ficar algumas poucas posições abaixo.

Há sete anos como principal executivo do comitê, Freire afirma que se "preocupa com o Brasil neste 2017-2020" devido à possível fuga de patrocinadores e de investimentos.

Folha - Restam poucos dias para a abertura. Ao fazer o planejamento, vocês esperavam chegar aos Jogos do jeito que estão agora?
Marcus Vinícius Freire - Muito próximo. Sempre dissemos que [a meta] era factível, mas muito difícil. Acho que estamos neste momento agora. É possível [atingir a meta]. Temos atletas para brigar pelas 22 a 29 medalhas e pelo top 10. Houve um país que se destacou em relação aos outros, a Holanda. Sempre falei que os oito primeiros colocados estavam confirmados, e agora acho que o nono também. A Holanda teve um crescimento gigantesco nos últimos quatro anos. É um pequeno país, mas que fez um trabalho impressionante. Se olharmos os Mundiais, eles estão à frente da gente, de Itália, Coreia e Hungria. Mas vamos brigar com dez países pelo décimo lugar.

O COB passou a enfatizar muito mais o décimo lugar do que o número de medalhas. Foi um erro cravar um número de pódios?
[A meta] sempre foi ficar entre os dez primeiros. Mas, como minha cabeça é matemática, venho de mercado financeiro, sempre dei como referência o número de medalhas que o décimo colocado conquistou nos Jogos anteriores [28 e 27]. Era uma referência para ficar no top 10. Mas, hoje, os especialistas daqui acreditam que a tendência é que os oito primeiros colocados ganhem um pouco mais de medalhas em relação às edições anteriores e que haja mais gente vindo de baixo.

Quando demos essa informação de que poderíamos ser décimo com menos medalhas, muita gente falou "ah, o COB mudou a meta". Não. Seguimos com o objetivo de ficar no top 10, mas com cerca de 25 medalhas.

Talvez fosse melhor não ter falado em número?
Eu não tenho problema com isso. Para a meta e números, eu tenho tranquilidade. Tem sido essa referência.

O veto ao atletismo russo por conta do doping alterou algo na conta?
Nós fizemos o cálculo prova por prova, nome por nome. Os nossos rivais nesta briga pelo décimo lugar têm mais chance de pegar essas medalhas dos russos do que a gente. Vai subir gente da Ucrânia, do Azerbaijão, da Hungria... Na soma das provas, os outros sobem mais do que nós.

Você teme que, apesar do investimento feito, o público considere um fracasso se o Brasil terminar o dia 21 de agosto em 11º lugar?
As pessoas podem até considerar, mas eu não tenho medo nenhum. Eu digo que já tenho a coletiva de imprensa do dia 21 pronta na minha cabeça, independentemente de ser 11º, 12º ou nono. Esse quadriênio representou o melhor trabalho da história olímpica do Brasil, de resultados, parcerias, planejamento e execução. Os atletas tiveram tudo. Demos, pelo menos, o mesmo nível dos adversários. Não temos por que menosprezar um trabalho, independentemente do resultado. Não é desculpa, mas durmo tranquilo porque o que tinha que ser feito foi. Agora é no detalhe.

Como lidar com esses detalhes?
Vamos ter um esquema para ajudar os atletas que vão competir muito tarde. Um especialista vai dar óculos especiais para ajudar a dormir. Montamos um outro aplicativo para ajudar a família dos atletas: como pegar o BRT [ônibus], como buscar o ingresso com a gente, como pegar um brindezinho para ajudar na torcida. Temos um grupo de cuidadores dos familiares. Se eu tivesse que olhar para trás, diria que não faltou quase nada na nossa preparação.

Quase? O que faltou?
Aí eu vou ver no dia 22 de agosto. Nesse momento, não consigo pensar em nada. Quando o resultado for ruim, é porque o adversário vai jogar melhor. Tenho dado sempre o exemplo do [Cesar] Cielo quando saiu da piscina [após perder vaga para a Olimpíada]. Ele foi muito honesto e verdadeiro, disse "eu fiz a minha parte, o índice, mas os moleques mais novos nadaram mais rápido do que eu". Isso é do jogo, isso pode acontecer e as medalhas não aparecerem.

Se o Brasil não ganhar medalha no primeiro ou segundo dia, não pode bater um desespero?
Criamos um grupo de preparação com psicólogos e outro de treinadores. Vejo sempre o copo cheio. Temos que olhar de uma forma otimista, independentemente do que ocorrer no primeiro dia.

Muito se discutiu ao longo dos últimos anos como seria o acesso dos atletas a redes sociais durante os Jogos. Chegou-se a uma conclusão?
Não tem uma maneira única. Foi o consenso a que se chegou no "board" de treinadores. Cada um tem um jeito. No caso do Bernardinho, se celular toca no treino, ele joga dentro da água. Já jogou uma porrada. A gente chegou a um consenso de que não pode ser proibido, mas tem que ser negociado. Não se criou uma cartilha modelo.

Este tem sido um ano de muita discussão sobre doping. É uma preocupação para a delegação?
Estivemos com o novo presidente da ABCD [Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, o judoca Rogério Sampaio]. Nossa preocupação não eram os casos positivos, mas o número de testes que vinham sendo feitos versus a possibilidade do número de faltas.

Muita gente perdeu. Ficamos em risco de muitos atletas terem três faltas e levarem um positivo, porque a ABCD e o LBCD [Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem] resolveram testar para testar a equipe deles. Foi uma confusão. A gente pediu "parem de testar o cara que não tem risco de dar positivo". Temos o caso da vela, em que atletas ficaram com duas faltas e correram risco. A vela brasileira não teve um único caso positivo nos últimos 60 anos. Para que testar 11 vezes? É para dar falta.

Houve tensão com a ABCD?
Não. Foi uma tensão nossa com os atletas. Por desatenção, falta, vacilo, ficamos preocupados pela quantidade de testes. Agora, a gente espera que normalize.

Está preocupado com o período após a Olimpíada?
Preocupa o Brasil neste 2017-2020. Preocupa tudo. Há duas leis que acho que vão continuar financiando, a Lei de Incentivo e a Lei Piva. O ministro [Leonardo Picciani] disse que é a favor de manter as bolsas, de continuar, que vai rever regras. E não sabe como vão ser as estatais. Essa é uma preocupação de financiamento. Se o ministério continuar ministério ou uma secretaria não tem tanta importância, porque o orçamento dele não é uma coisa que muda o Brasil.

Você continuará a trabalhar no COB após os Jogos?
Vamos conversar depois também. A princípio, é um projeto até 2016. Ainda não conversamos sobre isso. Vamos esperar acabar essa missão. Fico até o final do ano, com certeza. Depois, temos que conversar com meu chefe.

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RAIO-X - Marcus Vinícius Freire

NASCIMENTO
6.dez.1962 (53 anos), em Bento Gonçalves (RS)

COMO JOGADOR
Medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984

COMO DIRIGENTE
É diretor executivo de esportes do COB. Antes, foi chefe de missão da delegação brasileira no Pan de Winnipeg-1999, no Pan do Rio-2007 e nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008

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Brasileiros na Rio-2016

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