Publicidade
Publicidade

Agente de segurança para Rio-2016 é aprovado após teste virtual e palestra

As revistas de segurança em instalações olímpicas serão improvisadas com profissionais sem treinamento adequado contratados às vésperas do início da Olimpíada.

A 16 dias do início da Rio-2016, o processo de seleção dos operadores de detector de metal e de raio-x, responsáveis por definir quem terá ou não acesso às áreas de competição, ainda está em andamento.

A Folha constatou que, para um candidato trabalhar no controle de acesso às arenas da Rio 2016, basta cumprir um treinamento online, que pode ser feito em poucas horas, e assistir à uma palestra conduzida por profissionais da empresa de recursos humanos Simetria Terceirizados e Temporários.

Alfredo Mergulhao/Folhapress
Candidato exibe certificado de curso online para operar detector de metal e raio-x
Candidato exibe certificado de curso online para operar detector de metal e raio-x

No entanto, o certificado concedido àqueles que concluem esta preparação não corresponde à real duração do curso.

Um candidato entrevistado pela Folha mostrou que, em seu diploma, aparecia que o curso de "Controle de Acesso às Instalações - MAG & BAG" foi realizado entre março e setembro de 2016.

Na realidade, ele gastou apenas uma tarde para ler apostilas e responder a um questionário com 20 perguntas pela internet. São aprovados todos os que alcançarem 70% de aproveitamento. Os candidatos podem tentar atingir o aproveitamento mínimo em três tentativas.

O certificado concedido aos alunos apresentava três emblemas: da Polícia Federal, do Governo Federal e da Academia Nacional de Polícia. Também trazia as assinaturas digitais de Andrei Augusto Rodrigues, secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, e do diretor da ANP, José Rita Martins Lara.

A responsabilidade desta seleção está a cargo da empresa catarinense Artel (vencedora da licitação de R$ 17 milhões para a controle de acesso em arenas) que encarregou a empresa de recursos humanos Simetria, do Rio de Janeiro, de recrutar mais de 5.000 pessoas previstas em contrato para este trabalho.

SELEÇÃO

O processo seletivo é sumário: o candidato inscreve o currículo, é chamado para uma palestra, acessa o material didático na internet e responde a uma prova online sobre o conteúdo estudado. Especialistas afirmam que tal seleção é marcada pelo improviso, colocando em risco a segurança dos Jogos.

Segundo candidatos ouvidos pela Folha, após o envio de um currículo, os selecionados assistem à uma palestra conduzida por profissionais da Simetria.

Feito isso, recebem por e-mail um link que dá acesso à uma apostila elaborada pela Sesge (Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos), ligada ao Ministério da Justiça, com instruções sobre o funcionamento do raio-x e a forma de inspecionar as pessoas.

Em seguida, respondem ao questionário. A aprovação gera um certificado da Academia Nacional de Polícia, instituição que forma os policiais federais.

Com a posse do certificado, os candidatos apresentam os documentos à Simetria e são entrevistados por funcionários da empresa, na última etapa do processo seletivo antes da assinatura do contrato.

Devido à quantidade de interessados nas vagas, a Simetria usou a quadra da escola de samba Portela, na zona norte do Rio, para receber a documentação e fazer as entrevistas.

Na terça-feira (19), a quadra da escola de samba ficou lotada de candidatos. Na quarta (20), a Simetria ainda manteve um posto para atender quem não conseguiu entregar os documentos na véspera.

Uma candidata que esteve no local disse à Folha que vai atuar em uma das barreiras de segurança montadas próximo ao Rio 2, um condomínio residencial localizado em frente ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca.

"O curso na internet foi focado no uso dos equipamentos de raio-x, o fixo e o de raquete. Também mostrou o que não pode entrar nos locais, como bengala, agulha, tesoura e vidro. Quando a gente encontrar algum material restrito, é para chamar um superior", afirmou a candidata, que começa a trabalhar no dia 28.

Um outro candidato aprovado contou ter feito cadastro na Simetria há um mês para tentar recolocação profissional como motorista. No entanto, recebeu um telefonema da empresa no dia 9 de julho, data em que as vagas para trabalhar no controle de acesso às instalações olímpicas foram anunciadas. A ligação foi para convidá-lo a participar deste processo seletivo.

"Eu assisti à uma palestra no dia 10 de julho e depois recebi um link para fazer o curso na internet. A apostila tinha instruções sobre o funcionamento do raio-x e a forma de inspecionar as pessoas. Fui aprovado e imprimi o certificado na hora", disse um dos selecionados.

A organização do recrutamento foi criticada por especialistas.

"A incompetência administrativa coloca o evento em risco. Os gestores deixam o evento vulnerável com essa escolha no improviso", diz o antropólogo Paulo Storani, especialista em segurança de grandes eventos.

"Isso não pode ser levado a sério. Não é numa entrevista que você verifica se alguém está capacitado para exercer essa função", afirmou o delegado federal aposentado Ângelo Gioia, que já atuou na fiscalização de empresas de segurança na PF.

OUTRO LADO

A Sesge divulgou nota em que afirma que a Força Nacional supervisionará o trabalho dos funcionários privados que controlarão o acesso às instalações.

Segundo o órgão, policiais farão, entre outras atividades, as revistas pessoais, quando necessárias, além da checagem das credenciais e demais exigências de acesso às instalações.

Profissionais do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) irão monitorar os equipamentos utilizados.

De acordo com a Sesge, a Artel é "especializada na prestação de serviço para operação de equipamentos de inspeção eletrônica de pessoas, bagagens e cargas".

O órgão federal não respondeu sobre o processo de seleção de pessoal. Limitou-se a dizer que avaliou os antecedentes de 30 mil candidatos.

A Folha entrou em contato com o escritório da Artel, em Santa Catarina, e foi informada que não havia um representante disponível para falar em nome da empresa.

A Simetria informou em nota que "atua dentro das especificações solicitados pelo seu cliente" –a Artel. A empresa afirmou ainda que o curso on-line é de responsabilidade da Sesge e que a Simetria não tem qualquer gerência ou conhecimento do seu conteúdo.

Desde que as vagas foram anunciadas, no dia 9 de julho, a Simetria recebeu mais de 20 mil currículos. A empresa informou que o número de contratações dependerá da demanda da Sesge. Por esse motivo, eles pretendem selecionar até 7.000 candidatos, pois já consideram as faltas e desistências entre os selecionados.

A empresa iniciou as admissões na segunda-feira (18).

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade