Medalhistas de prata na prova do C2 1.000 m da canoagem velocidade, disputada na Lagoa Rodrigo de Freitas, neste sábado (20), os baianos Isaquias Queiroz, 22, e Erlon Souza, 25, vivem nesse esporte desde o berço.
Ubaitaba, a cidade do único brasileiro a conquistar três medalhas em uma edição dos Jogos, junta em seu nome três vocábulos do tupi-guarani –ubá (canoa feita geralmente de uma só peça de madeira), y (rio ou água) e taba (aldeia ou cidade)– e é correntemente chamada de "cidade das canoas". Na pequena cidade a 450 km de Salvador o transporte fluvial é predominante e é praticado no rio das Contas, que separa Ubaitaba de Aurelino Leal.
A 24 quilômetros de Ubaitaba, o mesmo rio passa por Ubatã, terra natal de Erlon Souza. Em tupi-guarani, Ubatã significa "canoa forte".
"Rio principal de uma bacia hidrográfica inteiramente baiana, o rio das Contas é importante histórico-social e culturalmente para o desenvolvimento de várias atividades ao longo de todo seu percurso, como: captação de água para consumo, lazer, pesca, prática de esporte, transporte de pessoas, de mercadorias; (...) Os canoístas têm uma relação de afetividade e amor pelo rio", escrevem as pesquisadoras Verônica dos Santos e Rita Chiapetti em trabalho sobre a relação dos moradores da região com o rio.
Os habitantes de Ubaitaba e Ubatã, ambas com menos de 30 mil moradores, utilizam o rio cotidianamente para locomoções, o que fez com que se criasse um conhecimento natural da prática da canoagem. Com o tempo, o costume virou atividade profissional: Jefferson Lacerda, o primeiro brasileiro a participar da canoagem em Jogos (Barcelona-1992), é de lá. De Ubaitaba saíram diversos praticantes profissionais da canoagem nos últimos anos.
Isaquias descobriu a canoagem em 2005 por meio de um projeto social em sua cidade natal. O esporte surgiu como uma compensação para um jovem que havia sofrido dois episódios traumáticos na infância, que incluíram uma retirada de rim -após cair de uma árvore- e uma lenta recuperação depois de se queimar com água escaldante.
Em 2011, devido à falta de estrutura em Ubaitaba para se desenvolver no esporte, Isaquias mudou-se para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. Em 2014, foi para Lagoa Santa, na região metropolitana de Minas Gerais, base de preparação da seleção brasileira de canoagem.
Descoberto em um projeto social em Ubatã, Erlon também precisou sair do lugar onde nasceu para encontrar polos de treinamento mais estruturados. Acabou em Lagoa Santa, junto de Isaquias.
"Eu tinha que correr atrás de patrocinadores e passagens aéreas. Ia pessoalmente atrás de empresa, no comércio. Alguns amigos que me ajudavam, mas era muito ruim porque tinha que deixar de treinar e ir atrás de recursos", comentou à Folha.