Segredos
do Poder
Estratégia de espanhóis muda leilão
25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-7
em São Paulo
Por que o consórcio do Banco Opportunity associado à empresa italiana
Stet não conseguiu comprar a Tele Norte Leste se, como mostram as
fitas, até o presidente Fernando Henrique Cardoso se empenhou para
que ele vencesse o leilão?
A resposta é um segredo guardado a sete chaves pelo espanhol Juan
Villalonga, presidente da Telefónica de España, até o momento em
que começaram a ser abertos os envelopes com as propostas dos consórcios.
Tidos como favoritos para o leilão da Tele Centro Sul, os espanhóis,
para surpresa geral, compraram a Telesp e mudaram o rumo do maior
leilão de privatização já realizado no país.
Até o início do leilão _às 10h de 29 de julho de 1998_, governo,
empresários e especialistas do mercado tinham como certo que a Telesp
seria comprada pelo consórcio formado por Organizações Globo, Bradesco
e Telecom Italia.
Os espanhóis já controlavam a companhia telefônica do Rio Grande
do Sul, a CRT _em sociedade com o grupo de comunicação gaúcho RBS
(Rede Brasil Sul, da família Sirotstky), e por isso se esperava
que fossem apostar todas as fichas na Tele Centro Sul, que cobre
Paraná, Santa Catarina e todo o Centro-Oeste.
Com uma área de concessão do tamanho da Europa _16 Estados (do Rio
de Janeiro ao Amazonas) com população de 86 milhões de habitantes_,
a Tele Norte Leste era uma incógnita.
O BNDES, gestor do processo de privatização, e o ministro das Comunicações,
Luiz Carlos Mendonça de Barros, diziam temer pela falta de interessados
na empresa e trabalhavam nos bastidores para assegurar a vitória
do consórcio do Banco Opportunity.
O leilão começou pelas empresas de telefonia fixa: Embratel, Telesp,
Tele Centro Sul e Tele Norte Leste, nesta ordem.
As propostas para as quatro empresas foram entregues de uma só vez,
e o consórcio que comprasse uma delas era automaticamente excluído
do leilão das demais.
Os espanhóis entregaram envelopes para a Telesp e para a Tele Centro
Sul. Os italianos apresentaram proposta para a Telesp, a Tele Centro
Sul e a Tele Norte Leste.
O terceiro concorrente no leilão foi o consórcio Telemar, que só
apresentou proposta para a Tele Norte Leste e era considerado o
"azarão'' da disputa.
Para surpresa até da família Sirotsky _que desconhecia a real estratégia
dos espanhóis para o leilão_, a Telefónica de España ofereceu R$
5,78 bilhões pela Telesp: R$ 1,8 bilhão acima da proposta do consórcio
de Telecom Italia, Globo e Bradesco.
Com a vitória dos espanhóis na Telesp, os italianos ficaram sozinhos
no leilão da Tele Centro Sul e foram declarados vencedores.
Por conseguinte, foram eliminados do leilão da Tele Norte Leste.
Foi desse modo que o consórcio Telemar ficou sem adversários no
leilão da Tele Norte Leste e acabou comprando o controle da empresa
com apenas 1% de ágio.
O Sistema Telebrás _que era composto de 27 subsidiárias_ foi aglutinado
em 12 empresas para a privatização: oito operadoras de telefonia
celular, três de telefonia fixa (Telesp, Tele Centro Sul e Tele
Norte Leste) e a Embratel.
O governo arrecadou R$ 22,057 bilhões com a venda das telefônicas.
(ELVIRA LOBATO)
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