Segredos
do Poder
"Malan é um babaca", diz Mendonça
25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-14
Segunda-feira, 3 de agosto. Mendonça de Barros telefona para Lara
Resende. Conta que Clóvis Carvalho ligou, a mando do presidente
da República, oferecendo-se para interceder junto ao Banco do Brasil
a respeito de dois assuntos: 1) considerar privadas as seguradoras
do BB; e 2) modificar o controle acionário da Tele Norte Leste para
dar mais poder ao governo.
Fica claro que Carvalho e FHC sabiam o que se passava. Nesse diálogo,
Mendonça admite que a entrada da BNDESPar na Telemar era uma intervenção
do governo, com o objetivo de comandar o processo a partir daí.
André relata que acabara de falar com Malan. "Pega o Malan e o Pedro
Parente, que são dois babacas", diz Mendonça. O ministro e Lara
Resende avaliam que Malan e Parente estariam muito envolvidos com
o discurso privatista. "O Pedro Malan é um babaca que está sendo
enganado", diz Mendonça. E completa: "(Malan) tá fazendo o lobby.
E eu sei qual é o discurso: 'Nós aqui queremos privatizar'. Está
errado tudo aquilo lá". Lara Resende responde, concordando: "É impressionante"
Ao longo desse diálogo, Mendonça chama Malan de "babaca" três vezes,
sendo uma delas em conjunto com Parente. Lara Resende acha que Malan
está desinformado: "Não sabe nem o que está se passando."
André Lara Resende - Alô?
Luiz Carlos Mendonça de Barros - Oi.
Lara Resende - Oi.
Mendonça - Ligou o Clóvis (Carvalho, ministro da Casa Civil)
aqui.
Lara Resende - Hã?
Mendonça - Falou: "O presidente pediu... que eu precisava
interferir no Banco do Brasil". Eu falei: "Não, não precisa mais,
não" (risos).
Lara Resende - Hã... Não, me ligou o Malan agora.
Mendonça - Hã?
Lara Resende - Aí, o Malan disse, olha, "não...", mesma coisa,
o problema deles é que precisa o financiamento, tudo bem, não teria
problema nenhum em aceitar o acordo de acionistas, mas desde que
desse o financiamento para a seguradora.
Mendonça - Mas isso aí não precisa dar o financiamento. Dá
a carta.
Lara Resende - Mas eu falei o seguinte: olha, mas é só eles
me dizerem que não precisam.
Mendonça - Isso.
Lara Resende - Eles dizem que não querem o financiamento,
não precisam do financiamento, está resolvido.
Mendonça - É.
Lara Resende - Então... porque... ô, Luiz Carlos, tem um
problema, o seguinte. Nós estávamos pensando aqui, nós vamos ficar
muito fragilizados depois do ponto de imprensa, do ponto de vista
de percepção disso. Porque, do ponto de vista... vai aparecer o
seguinte... da história complicada, ninguém aparece. Então, parece
que nós fizemos o seguinte: nós implicamos com o Banco do Brasil...
Mendonça - Não, mas aí deixa que eu dou uma declaração...
Lara Resende - ...Implicamos com o Banco do Brasil. Nós fomos
lá e fizemos... igual eu falei com o Zé Pio: vai ter que explicar
que não financia chapa branca, mas nós temos 25% do BNDESPar.
Mendonça - Por isso aí, fala pro Pio ficar tranquilo que
nós dois vamos dar uma declaração à imprensa.
Lara Resende - Pois é, então o que nós temos que fazer é
o seguinte, é dizer o seguinte: olha, realmente, nós temos que dizer
o seguinte, o consórcio estava... não tinha um plano, estava meio
desorganizado, e nós fizemos, em comum acordo com eles, numa pequena
participação do BNDESPar de transitoriedade, reorganizar isso tudo
e de paz...
Mendonça - ...indicada pelo próprio Sistema Telebrás.
Lara Resende - Perfeito.
Mendonça - Nós vamos fazer desse limão, vamos fazer uma limonada.
Lara Resende - É isso. Isso.
Mendonça - Fala pro Zé Pio ficar calmo.
Lara Resende - Ele tá calmo, ele tá calmo. Agora, se nós,
se nós, nós, nós financiarmos a seguradora do Banco do Brasil, depois
de fazermos toda essa, esse, essa onda...
Mendonça - É, mas faz... troca essa carta que, no fundo,
não quer dizer nada, também. Porque eu não quero, 'cê entende? Olha,
o negócio é mais complicado, André.
Lara Resende - Agora, eu também acho o seguinte, eu também
acho que, se no último instante, que ele falou o seguinte: por que...
qual é o problema de financiar? Eles não estão nem precisando do
dinheiro?
Mendonça - Eu sei, mas o problema é o seguinte. Aí ele (Clóvis
Carvalho) me falou: "Estão com problemas com o Tribunal de Contas".
E aquilo lá é uma mutreta, concorda?
Lara Resende - Claro, evidente.
Mendonça - Pega o Malan e o Pedro Parente, que são dois babacas,
faz aquele discurso privatista e monta uma mutreta. Depois, o que
aconteceu? O Tribunal de Contas está enchendo o saco deles, tá?
Então, o que ele falou é o seguinte: "Nós não... Se o BNDES disser
que não dá dinheiro porque é uma empresa pública é um argumento
para o Tribunal de Contas".
Lara Resende - É, mas nós dissemos isso tudo. O limite dos
25% é a mesma coisa.
Mendonça - É isso aí.
Lara Resende - Só não dá dinheiro.
Mendonça - "Nós não assinamos." 'Cê vê como ele falou. 'Cê
vê? O que é bom, isso, é que vai revelando... (risos) Mas, tudo
bem. Faz o seguinte: nós mandamos uma carta oferecendo, e vocês
dizem que não precisam.
Lara Resende - Não, e o Pedro Malan, ouve de lá, não sei
se é gente de boa-fé dizendo do lado de lá, que diz assim, não,
como a coisa foi para a imprensa como se tivéssemos... nós que tivéssemos
levado isso para a imprensa.
Mendonça - O Pedro Malan é um babaca que está sendo enganado,
ô André.
Lara Resende - É impressionante, pô. Impressionante.
Mendonça - 'Tá fazendo o lobby. E eu sei qual é o discurso:
"Nós aqui queremos privatizar". Está errado tudo aquilo lá.
Lara Resende - Impressionante...
Mendonça - Só não adianta, neste momento, querer resolver
essas questões.
Lara Resende - Não, tá bom. Eu acho que, agora, nós temos
que, nós temos que, nós temos é que fechar isso aqui hoje...
Mendonça - E, outra coisa. É o (Ércio) Zilli que é presidente
da empresa.
Lara Resende - Já falei isso aqui, viu.
Mendonça - (risos) (inaudível) aceitou.
Lara Resende - É, eu já disse que é o Zilli...
Mendonça - Porque agora nós temos que mostrar sinais do que
realmente aconteceu. Foi uma intervenção, e que nós vamos agora
comandar o processo do coisa...
Lara Resende - Porque isso, se não... essas coisas ficam
aqui... depois, o que estou dizendo é o seguinte... daqui para a
frente nós estamos ganhando uma batalha, que é assim, ganhando uma
série de aporrinhações daqui pra frente que vai ser uma loucura.
Mendonça - Ah, mas não tenha dúvidas. E não tem outro jeito?
Lara Resende - É, não tem.
Mendonça - Não tem, porque a grande aporrinhação é esses
caras fazerem uma cagada, e nós vamos ser acusados de ter deixado,
entende?
Lara Resende - É, não tem dúvida, não.
Mendonça - Agora, que nós vamos ter aporrinhação, vamos,
mas não tem outro jeito. Agora, por isso que é importante pôr o
Zilli lá, que a gente tem absoluta confiança, e, mais importante
do que isso, dá o sinal claro do que aconteceu. Ou será que os caras
não vão entender?
Lara Resende - É, é.
Mendonça - Ó, eu falei com o Atilhano (Atilano Oms Sobrinho,
da Inepar) e 'tá todo mundo doce, 'cê entende? Agora, a resistência
vem de onde agora? Do Banco do Brasil.
Lara Resende - Só, só.
Mendonça - Que é onde 'tá o...
Lara Resende - O mais engraçado é que o próprio Carlinhos
Jereissati já acalmou, já amansou.
Mendonça - Lógico, já viu que ganhou. Agora, o problema é
lá dentro. Daí vem Daniel Dantas, daí... passa pela Bahia a confusão
(Daniel Dantas é da Bahia e ligado ao senador Antonio Carlos Magalhães,
do PFL; além disso a seguradora Aliança do Brasil, da qual o BB
tem 40%, é controlada pelo grupo Aliança da Bahia).
Lara Resende - É... não tem dúvida nenhuma.
Mendonça - Agora, o duro é ver o nosso ministro da Fazenda,
babaca, dizendo...
Lara Resende - Não sabe nem o que está se passando. Eu vou
te dizer... 'Tá bom. Agora vamos acertar aqui.
Mendonça - 'Tá bom.
Lara Resende - Um abraço.
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