Segredos do Poder
Ministro nega negociação com o Fundo



27/05/1999
Editoria: Brasil
Página: 1-7


da Sucursal de Brasília

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, admitiu ontem que enviou cópia do discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso para o Fundo Monetário Internacional.
A informação consta de uma "nota à imprensa" divulgada às 20h10 pelo Ministério da Fazenda: "O ministro comunicou que a versão final do discurso, tal como foi proferido pelo presidente, seria encaminhada para conhecimento do Fundo".
A nota de Malan nega "qualquer negociação ou consulta ao Fundo, ou a qualquer instituição ou governo, sobre o teor do discurso, como demonstra a leitura isenta e responsável de qualquer trecho da gravação criminosa".
Como a nota não deixa claro se Malan enviou ao FMI cópia do discurso depois de FHC pronunciá-lo, a Folha consultou a assessoria do ministro às 20h40 para perguntar sobre isso. A assessoria informou que Malan remeteu ao Fundo uma cópia depois do pronunciamento do presidente.
A nota do Ministério da Fazenda é, em parte, contraditória com o conteúdo da conversa entre Malan e André Lara Resende, captada por escuta telefônica clandestina.
A conversa aconteceu antes do discurso do presidente. Malan diz a André Lara Resende que havia falado com alguém no FMI e no Departamento do Tesouro dos EUA. Esses dois organismos estariam interessados em saber o conteúdo do discurso "antes" da leitura do presidente, segundo Malan, "para poder expressar apoio".
Lara Resende fica com a incumbência de checar a opinião do FMI sobre o conteúdo do discurso. Diz que telefonará em seguida para Stanley Fischer, diretor-gerente-adjunto do Fundo. Essas informações foram passadas à assessoria de Malan às 15h30 de ontem.
A nota da Fazenda nega que essas consultas prévias tenham acontecido, apesar de Malan ter falado sobre isso na conversa com Lara Resende.
*
Leia abaixo a nota divulgada pelo Ministério da Fazenda

"O ministro da Fazenda, Pedro Malan, informado em Brasília de que um jornal estaria preparando a divulgação da transcrição de uma gravação, obtida de forma criminosa, de uma conversa telefônica sua com André Lara Resende, em setembro de 1998, declara, antes de qualquer interpretação precipitada:
1. Em nenhum momento negociou ou submeteu à consideração de qualquer pessoa ou instituição fora do governo brasileiro termos do discurso pronunciado pelo presidente da República no dia 23 de setembro de 1998, no Itamaraty.
2. Naquele momento de alta tensão e gravidade no cenário financeiro internacional, o Brasil, assim como vários outros países, mantinha diálogo com o Fundo Monetário Internacional, com outras instituições multilaterais e diversos governos. Nessas conversas, entre outras coisas, o ministro chamou a atenção de seus interlocutores para a importância das medidas de ajuste fiscal que ele mesmo anunciou em entrevista coletiva à imprensa no dia 8 de setembro, observando que o Fundo praticamente as desconhecera. Diante disso, o FMI solicitou que fosse informado, com a antecedência possível, de novas iniciativas que eventualmente o Brasil viesse a adotar, para que pudesse se manifestar.
3. Em relação especificamente ao pronunciamento do presidente, o ministro comunicou que a versão final do discurso, tal como proferido pelo presidente, seria encaminhada para conhecimento do Fundo. Não houve qualquer negociação ou consulta ao Fundo, ou a qualquer instituição ou governo, sobre o teor do discurso, como demonstra a leitura isenta e responsável de qualquer trecho da gravação criminosa.
Por fim, o ministro Pedro Malan reitera que, graças a essa capacidade de diálogo do governo brasileiro com as instituições multilaterais e com os governos dos 20 países mais industrializados, o Brasil está conseguindo recuperar a credibilidade internacional e, se continuar cumprindo internamente as tarefas de ajuste a que se propôs, terá uma economia mais forte para a retomada do desenvolvimento em bases sólidas e sustentáveis."


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