Prêmio
Folha Categoria Reportagem 1994
Folha
comprova fraude com bônus eleitoral do PL ; tesoureiro nega
05/08/94
Editoria:
CADERNO ESPECIAL
Página: Especial-1
Da Reportagem Local
A reportagem da Folha comprou do PL (Partido Liberal) um
lote de R$ 140 mil em bônus eleitorais em troca de um cheque de
apenas R$ 70 mil.
O negócio comprova a existência de de um mercado paralelo formado
por partidos para a venda ilegal, com deságio (desconto) de bônus
eleitorais.
Como se fossem empresários do interior de São Paulo, os jornalistas
realizaram a negociação.
O esquema dos bônus criado na legislação da eleição deste ano permite
vários tipos de irregularidades contra a Receita Federal, como a
legalização de recursos de "caixa 2" -contabilidade paralela de
uma empresa com o objetivo de sonegar impostos.
Esse mercado paralelo pode resultar em um grande prejuízo para a
Receita Federal, pois os partidos terão acesso a um montante de
R$ 3,1 bilhões em bônus este ano.
Os bônus funcionam como recibos. São entregues pelos partidos aos
doadores de recursos às campanhas.
O mecanismo foi criado com o objetivo de dar transparência ao financiamento
de candidatos, um dos principais problemas de eleições anteriores
no Brasil.
O PL (Partido Liberal), cujo candidato à Presidência é Flávio Rocha,
é uma das legendas mais fartas em estoque de bônus -vai ter direito
a receber R$ 177 milhões, conforme solicitou à Casa da Moeda, órgão
público federal responsável pela emissão dos papéis.
Este partido está vendendo bônus com deságio (desconto) para empresários
que pretendem utilizá-los com o objetivo de sonegar impostos.
A venda com desconto interessa aos tesoureiros das campanhas por
ser uma das formas de atrair as doações, que não estão sendo tão
generosas como nas eleições passadas.
Para os pequenos partidos, sem chances de vitória nas eleições,
o negócio torna-se mais interessante ainda. Poucos empresários se
interessariam em dar recursos aos seus candidatos nanicos.
Os partidos não tomam prejuízo nenhum com este tipo de operação.
Para justificar a diferença entre o total de bônus e o dinheiro
recebido, o partido trata de conseguir notas fiscais "frias".
Exemplo: para um partido que vendeu um lote de R$ 140 mil em bônus
e recebeu apenas R$ 70 em dinheiro, basta conseguir mais R$ 70 mil
em notas fiscais "frias" e justificar a saída, no momento de prestação
de contas, do total de bônus ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
As notas "frias" são notas fiscais que mostram uma despesa que de
fato não foi realizada. O partido apresenta notas, por exemplo,
de aluguéis de carros que nunca foram alugados, compra de cartazes
que não foram comprados etc.
A reportagem tentou comprar bônus após apurar com empresários que
vários partidos, entre eles o PL, o PSD e o PRN, estariam promovendo
as vendas com deságio (desconto).
As informações mais precisas apontavam para transações feitas pelo
PL, que havia oferecido o negócio a pessoas em São Paulo.
A transação, iniciada na sexta-feira da semana passada, foi concluída
na noite de anteontem, nas sedes da Guararapes e Riachuelo, em São
Paulo, empresas pertencentes à família de Flávio Rocha.
Foram dez telefonemas até a aquisição do lote de R$ 140 mil -28
bônus no valor de R$ 5 mil cada. As negociações foram feitas com
Téofilo Furtado Neto, executivo da empresa Guararapes e presidente
da Comissão de Finanças do PL.
Outro lado
O chefe do comitê central de campanha do candidato Flávio Rocha
(PL), Teófilo Furtado, afirmou que "não procede" , a acusação. Informado
pela Folha da existência de provas de irregularidades, Furtado
disse que não 'sabia explicar' o fato.
Respondendo sempre com um "não procede", Furtado chegou a responsabilizar
Dilma Gonçalves pela venda. "Isso é com dona Dilma. Ela é lotada
em São Paulo. Não sou eu que trato de venda. Se está acontecendo
isso, é responsabilidade dela", afirmou Furtado.
Colaboraram VICENTE DUARTE NETO, da Redação, e Sucursal de Brasília
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