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Futebol na Rede

28/02/2005

Dez craques injustiçados do futebol brasileiro

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

É inegável a capacidade do futebol brasileiro de produzir craques. Com o surgimento de tantos jogadores, é comum cometermos algumas injustiças, e muitas vezes não damos a determinados jogadores o destaque que eles mereciam. Essa falta de crédito acontece em todos os níveis. Não damos valor para jogadores que conquistaram Copa do Mundo, valorizamos demais um jogador e esquecemos seu parceiro ideal, outros só são idolatrados por torcidas de clubes nos quais jogaram. Nesta edição, Futebol na Rede selecionou dez grandes jogadores que não tiveram (ou não têm) seus talentos reconhecidos na mesma proporção do excelente futebol apresentado em suas carreiras.

Ademir da Guia - Seguramente deveria figurar em qualquer lista que selecione os dez melhores jogadores da história do futebol brasileiro. Titular absoluto do Palmeiras durante anos, era um meia que sabia ditar o ritmo de uma partida. As grandes jogadas que fazia se pareciam comuns graças ao seu talento. Estranhamente, Ademir da Guia é pouco lembrado pelo seu talento, poucos o colocam na galeria de grandes craques. Ademir é mais lembrado por não ter brilhado na seleção brasileira do que pelo seu grande futebol. Até uma grande característica de Ademir, a frieza, é erroneamente classificada por alguns como falta de vibração.

Alex - O meia que agora está no futebol turco é outro que tem o seu talento diminuído. Alex, pelo que atou pelo Palmeiras, onde cansou de conquistar títulos importantes, e pelo Cruzeiro, quando liderou o time em 2003, já teria que ser considerado um jogador de seleção, mas isso não acontece. Nas poucas oportunidades em que esteve com camisa do Brasil, por mais que fizesse, suas atuações sempre foram contestadas. Criou-se em torno de Alex a fama de que ele é um jogador que participa pouco das partidas, o que está longe de ser verdade.

Bebeto - Bebeto é um jogador que consegue ter mais destaque no exterior, principalmente na Espanha, do que no futebol brasileiro. Um dos maiores atacantes e artilheiros da história recente do nosso futebol, Bebeto esteve longe de ser uma unanimidade. O atacante, que foi fundamental na conquista da Copa do Mundo de 1994, teve sua atuação ofuscada pelos gols de Romário.

Carlos - Excepcional goleiro, é outro que é pouco lembrado. Quando é citado, é chamado "de pé frio", graças, principalmente, ao pênalti que bateu em suas costas e entrou nas quartas-de-final da Copa de 1986, na partida contra a França. Quem recorda desta infelicidade do goleiro esquece que ele levou apenas um gol naquele Mundial e para muitos foi o melhor goleiro do Campeonato. Além disso, ele disputou, como reserva, as Copas de 1978 e 82, e teve atuações destacadas na Ponte Preta, onde iniciou a carreira, e no Corinthians.

Luisinho - Revelado pelo Atlético-MG, Luisinho foi um dos zagueiros mais clássicos da história do futebol brasileiro. Chamava a atenção por sua incrível capacidade de tomar a bola dos adversários sem fazer faltas e pelo grande senso de colocação. Talvez a derrota para a Itália na Copa de 82 fez com que a capacidade de Luisinho fosse menosprezada (muitos, após a desclassificação, achavam que ele deveria ser substituído por Edinho, que era mais vigoroso).

Mazinho - Um autêntico polivalente. Atuou com precisão como lateral-esquerdo, lateral-direito e principalmente como volante, onde era perfeito nos passes --tinha sempre um aproveitamento superior a 90%. Junto com César Sampaio, comandava o meio campo do Palmeiras no biênio 93/94 e teve participação importante na campanha do tetra, quando começou a Copa dos Estados Unidos na reserva e ganhou a posição de Raí. Estranhamente, todos lembram da eficiência na marcação de Dunga e Mauro Silva naquele Mundial, mas poucos se lembram da eficiência de Mazinho.

Pita - Na época em que quase todos os times brasileiros buscam por um meia criativo, Pita deveria ser reverenciado. Canhoto, revelado pelo Santos, já mostrava seu enorme talento num meio-de-campo que era completado por Clodoaldo e Aílton Lira. No São Paulo, também foi fenomenal, com passes e lançamentos precisos. Dono de grande habilidade, marcava belos gols, um deles inesquecível, quando driblou meio time do Palmeiras.

Reinaldo - Para os atleticanos Reinaldo é "Rei", mas o resto do Brasil não dá ao atacante o mesmo crédito. Reinaldo foi um atacante excepcional, com raro senso de colocação e com frieza na hora das conclusões, pois dificilmente perdia uma chance de gol. Infelizmente, problemas nos joelhos, provocados pela ira dos zagueiros adversários, abreviaram sua carreira e tiraram a chance de ele brilhar em uma Copa do Mundo (esteve no Mundial da Argentina, mas, com problemas físicos, pouco fez).

Rivaldo - Ganhou até o prêmio de Melhor Jogador do Mundo da Fifa, mas sempre foi muito criticado aqui no Brasil. Recebeu um comentário nada justo de Vanderlei Luxemburgo, que declarou que ele não poderia ser tratado como principal estrela de um time. Rivaldo, desde que foi revelado pelo Mogi Mirim, sempre foi um craque. Teve passagens marcantes no Palmeiras, La Coruña e Barcelona. Foi fundamental na conquista do Mundial de 2002, quando foi decisivo nas duas partidas mais difíceis na campanha do quinto título mundial --contra a Bélgica e a Inglaterra.

Wladimir - O ex-lateral-esquerdo do Corinthians foi um dos jogadores mais regulares da história. Marcador implacável, dificilmente era driblado, numa época em que existiam pontas habilidosos. Era acusado de ser fraco ofensivamente, o que não é verdade. Wladimir cruzava muito bem e cansou de marcar gols. Sua carreira na seleção foi destruída pela imprensa carioca, que não poupou críticas quando Wladimir foi escalado numa partida pelas eliminatórias, contra a Colômbia, barrando Marinho Chagas. As críticas foram tantas que o fato teria provocado a queda de Osvaldo Brandão, então técnico do Brasil.

No futebol, como na vida, não basta ser craque é preciso que as pessoas o reconheçam com tal.

Até a próxima.

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    A cada rodada que passa, a briga pelo título do Campeonato Paulista fica mais restrita a São Paulo e Santos. O time de Emerson Leão está mostrando um conjunto forte e muita regularidade, e além disso tem um inacreditável aproveitamento de pontos de 93,3% e já venceu dois clássicos --contra Palmeiras e Corinthians. O Santos, mesmo quatro pontos atrás, continua na luta do título, principalmente graças a quantidade de jogadores que podem decidir a partida a qualquer momento. Enquanto vários times procuram um jogador de criação, Santos e São Caetano provaram na partida do último domingo que estão muito bem servidos na posição. Deu gosto ver a atuação de Ricardinho e Marcinho. Os dois tiveram uma atuação destacada. O meia do São Caetano deu passes precisos, pena não ter companheiros mais habilidosos. Já Ricardinho cansou de deixar os atacantes santistas na cara gol, inclusive foi dele o passe perfeito para Evando, que marcou o tento da vitória santista.

    Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
    Folha Online às terças-feiras.

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