Conheça a Folha   Folha Online
 Português | Español | English  
Projeto Editorial 1988-1989, Agosto de 1988

Segmentação ou riqueza de detalhes?

Segmentamos o jornal em cadernos e suplementos, de modo a organizar psicologicamente a leitura e atrair novas frações do leitorado. Foi uma decisão correta, que também não tardará a ser imitada; quem de nós, no entanto, se considera satisfeito com o conteúdo de cada caderno e de cada suplemento?

Mas o núcleo central dos nossos problemas está, como não poderia deixar de ser, no núcleo mesmo do jornalismo: O texto, a reportagem. O problema do texto, de sua má qualidade média, é de tal forma grave que na reestruturação da Secretaria de Redação, formalizada em julho de 1988, uma terceira área desse organismo central - a de Planejamento - foi especialmente destacada para encarregar-se de transformar, e rapidamente, o texto da Folha.

A qualidade da reportagem tem oscilado entre os grandes - e infelizmente eventuais - furos jornalísticos e uma rotina de pautas pouco imaginativas; entre os esforços concentrados dos cadernos especiais e das edições de grandes eventos, geralmente bem-sucedidos, e uma sensível precariedade na cobertura dos fatos do dia-a-dia. É indispensável investir numa máxima diferenciação de enfoques, no deslocamento das atenções, na descoberta do que não foi dito, não foi perguntado ou não foi lembrado a respeito de cada acontecimento. Isso não significa lançar-se na invencionice e na arbitrariedade, cujo principal mecanismo psicológico parece ser o hábito, não ir ao encontro dos fatos, mas de buscar neles a confirmação de uma generalidade, de uma abstração: a partir daí surgem os "chapéus" mais gratuitos, as associações de idéias bizarras, as valorizações do insignificante. O senso do concreto, do prático, do preciso, não se opõe à imaginação; ao contrário, é o que dá conteúdo e interesse jornalístico ao que poderia terminar como simples masturbação mental. Mas e mais as decisões jornalísticas - seja na edição, seja na pauta - terão necessariamente um quê de arbitrário: pode-se, a partir de um fato "leve", circunstancial, apenas curioso, criar um grande assunto, descobrir uma nova área de interesse, que a simples reprodução televisiva dos acontecimentos de um dia não revela. Mas para isso é necessário, antes de tudo, ter fatos concretos, solidamente apurados, ricos de detalhe, capazes por si próprios, e não por malabarismos de edição, de despertar o interesse do leitor.

Leia também:

Outros projetos
1981 - A Folha e alguns passos que é preciso dar
1984 - A Folha depois da campanha diretas-já
1985 - Novos rumos
1986 - A Folha em busca da excelência
1988 - A hora das reformas
1997 - Caos da informação exige jornalismo mais seletivo, qualificado e didático

 

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).