Um programa diário veiculado em rádios comunitárias e produzido
por garis está mudando a concepção da população de Manaus
(AM) na hora da coleta do lixo urbano. Há seis dias, 60 caminhões
trazem na carroceria duas caixas de som nas quais também é
transmitida a Rádio Gari.
Com três minutos de duração, o programa
é apresentado pelo gari Allan da Silva Nascimento, 26, que
trabalha coletando o lixo e capinando as ruas há um ano e
seis meses.
Nascimento e mais três colegas dão
dicas de limpeza pública, de como separar o lixo seletivo,
como limpar os quintais para não proliferar os mosquitos da
dengue e da malária, além de realizar campanhas, como por
exemplo, para proteção dos igarapés e matas que cercam Manaus.
Segundo o prefeito de Manaus, Serafim
Corrêa (PSB-AM), o programa foi criado para que a população
se conscientize da importância de manter a cidade limpa, já
que a limpeza pública é uma das áreas críticas. "Grande parte
da população joga o lixo, colchões e até geladeiras, nos igarapés,
aumentando os riscos dos alagamentos", disse. O programa da
Rádio Gari é gravado em estúdio e veiculado nos caminhões
das 7h às 18h em todos os bairros da cidade, incluindo os
terminais de ônibus. Nas rádios comunitárias e em uma rádio
local, o programa é veiculado ao vivo uma vez por semana.
O custo do projeto nos caminhões é de R$ 7.800 mensais.
Coordenador da Rádio Gari, Marinaldo
Matos, 32, disse que o programa já está atingindo algo em
torno 1,5 milhão de ouvintes. "Temos duas funções: a 400 m
a pessoa já sabe que o caminhão do lixo está na área dando
tempo de levar o lixo para fora de casa antes de o caminhão
passar e, em segundo, passa a ouvir informação, música e entretenimento",
afirmou. A Prefeitura de Manaus tem contratados 2.000 garis.
O talento de Nascimento foi descoberto em uma festa do dia
da categoria em 2004. Ele, que ganha R$ 840, escreveu uma
música sobre a profissão e a apresentou na festa. Sua voz
agradou tanto que ele foi contratado para ser o apresentador
da rádio.
As 28 músicas que tocam na Rádio Gari
são de sua autoria. "Eu fiquei impressionado comigo mesmo,
eu achava impossível ser chamado para trabalhar na área artística,
que sempre foi meu sonho", disse Allan Nascimento. "Quando
sou visto nas ruas fazendo o meu trabalho, já dou autógrafos,
principalmente para as crianças."
KÁTIA BRASIL
da Folha Online
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