Envie sua opinião


GD- Jornalismo Comunitário

mais são paulo

Guia de banheiros ajuda paulistano a driblar aperto


Jornalismo Comunitário - Site GD

carta cbn

"Quero levantar a minha indignação quando você fala que tem empregos bons no Brasil. É mentira!"
Ivair Cypriano

"A educação avança a que custo."
Von Norden



 

 

mais são paulo
07/10/2008

Tombados vão abrigar órgãos públicos

 

Marco modernista, Edifício Esther receberá Secretaria Municipal da Educação; Cultura vai para o Sampaio Moreira

A Prefeitura começou a desapropriação para transformar em sede de órgãos públicos dois edifícios históricos do centro da cidade - o Esther, marco da arquitetura modernista do País, e o Sampaio Moreira, o "avô dos arranha-céus" de São Paulo. O Esther, na frente da Praça da República, vai ser a sede da Secretaria Municipal da Educação, e o Sampaio Moreira, na Rua Líbero Badaró, a nova Secretaria de Cultura.

Protegido pelos órgãos de conservação municipal e estadual (Conpresp e Condephaat), o Esther, de 1938, é o primeiro do País a seguir à risca os postulados do arquiteto francês Le Corbusier: planta, fachada e janelas livres (permitindo ampla exposição dos apartamentos, o que rendeu ao Esther o apelido de "construção devassa"); pilotis no térreo (entre os pilares, foi feita uma das primeiras galerias comerciais do País); e terraço-jardim. O prédio também abrigou o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Clubinho dos Artistas, o escritório do arquiteto Rino Levi e a residência do pintor Di Cavalcanti.

O Sampaio Moreira, construído em 1924 e tombado pelo Conpresp, teve no tamanho sua principal marca. Hoje espremido entre dois edifícios de 27 e 31 andares, foi o primeiro de São Paulo a ultrapassar os 5 pavimentos - alcançou logo 12. Para que fosse liberada a construção, foi necessário alterar o Código de Obras, de 1923.

A história dos edifícios foi decisiva para que pedissem a desapropriação. A preservação do patrimônio - em processo "irreversível" de degradação, segundo a Secretaria da Cultura - influenciou. "A intervenção pública era a única maneira de preservar os edifícios", avalia o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil. Os decretos de declaração para utilidade pública dos edifícios foram publicados no Diário Oficial em 4 e 18 de dezembro.

No Sampaio Moreira, a maioria das unidades, todas comerciais, já foi desocupada. Segundo o síndico, André Ubezio, "menos de 20" das 180 unidades seguem ocupadas. Os inquilinos devem sair até o dia 15.

"Só quero continuar trabalhando no elevador onde sempre trabalhei", pleiteia Joaquim de Araújo de 51 anos, ascensorista do Sampaio Moreira há 30 anos - o único emprego que teve na vida. "Seria o ascensorista da secretaria com o maior prazer!", se oferece.

?BOM NEGÓCIO?

A Prefeitura depositou em juízo R$ 5,1 milhões na conta do espólio de herdeiros do edifício. A família, porém, deve entrar na Justiça questionando o valor avaliado do prédio. Hoje, a sede da Secretaria Municipal da Cultura ocupa sete andares de um edifício na Avenida São João - aluguel de R$ 164 mil por mês ao grupo Savoy. "Em dois anos e meio cobriremos a desapropriação. Financeiramente, também é um bom negócio", diz Calil.

No Esther, a desapropriação deve ser mais complicada. Também foi construído por uma família - os Nogueiras, usineiros de Cosmópolis, cujo brasão ornamenta elevadores, janelas e maçanetas do prédio. Hoje são mais de 30 os donos das 101 unidades. Todas passaram por avaliação para definir valores de desapropriação. "Não vão oferecer quanto o apartamento vale. É bem localizado, na porta do metrô", diz o produtor de eventos Edgar Sguassabia, de 72 anos, morador do Esther desde 1987. "Se tiver de sair, alguma recordação levo comigo", completa outro proprietário, o advogado Nestor Beyrodt, que reforma seu apartamento para recuperar a pintura das portas e torneiras e fechaduras originais.

Com fachada enegrecida e sem reboco em alguns pontos, janelas quebradas, corrimãos retorcidos e infiltrações na cobertura (hoje depósito), o Esther começou a decair no fim da década de 1970, na esteira da degradação do centro. "Uma secretaria no local certamente ajudaria a revitalizar o prédio, hoje caindo aos pedaços", disse Calil. Atualmente, a Secretaria de Educação do Município funciona em prédio próprio na Vila Mariana, na zona sul. Pelo menos o gabinete do secretário será transferido para o centro.

Armazém histórico de 1924, Casa Godinho vai ficar no Sampaio Moreira

Entre os cerca de 40 inquilinos que ainda ocupavam o Sampaio Moreira quando a desapropriação teve início, um deles, alegando "fazer parte do patrimônio", decidiu se mobilizar. Foi Miguel Romano, atual proprietário da Casa Godinho, armazém à moda antiga, que fica no térreo do edifício desde sua inauguração, em 1924. "Se o prédio tem importância histórica, a Casa Godinho também. Ela sempre fez parte do Sampaio Moreira", defende Romano. "Daqui, não poderíamos sair."

Em janeiro, na tentativa de salvar as históricas prateleiras de imbuia, o empresário anexou uma petição ao processo de despejo. Recebeu parecer favorável da Procuradoria-Geral do Município, que disse não ter "nenhuma intenção em encerrar as atividades" da Casa Godinho. Sabendo do parecer, a Secretaria da Cultura declarou que manteria o armazém no local, "pela sua importância histórica para a cidade". A decisão foi embasada em expediente jurídico chamado "cessão onerosa", que permite o pagamento por terceiros para utilização do espaço público. O valor a ser pago ainda não foi definido.

Outros inquilinos, também "parte da história do edifício", manifestam preocupação. Caso do contador José Antônio Mandetta, de 81 anos, cuja família mantém escritório no edifício desde 1949. Sua vida é tão marcada pelo Sampaio Moreira que, segundo funcionários do prédio, Mandetta "também deveria ser tombado".

E a reivindicação do contador é simples: quer ajuda para conseguir sala semelhante ali por perto. "Já procurei lugar parecido e é tudo o triplo do preço. Como vou exercer a profissão? É tempo demais aqui para ser despejado e pronto", disse Mandetta, que paga R$ 300 por condomínio e aluguel, pela sala do 7º andar. "Mas, por via das dúvidas, já comecei a encaixotar. Triste demais."

Vitor Hugo Brandalise
O Estado de S. Paulo

 

Áudio dos comentários

   

NOTÍCIAS ANteriores:
03/10/2008
Mooca tem acento?
02/10/2008
Doutores da Alegria entrarão nas escolas públicas
30/09/2008
Duas iniciativas importantes para SP
29/09/2008
Museu dedicado ao futebol é inaugurado nesta segunda em SP
19/09/2008
Sessão gratuita da PlayArte oferece filme para pais com bebês
18/09/2008
Marta e Kassab querem tirar ISS de autônomo
16/09/2008 Alckmin quer levar "Primavera Tributária" para a Prefeitura de São Paulo
15/09/2008
Crianças se prostituem dentro da Ceagesp
11/09/2008
SP terá praça da sustentabilidade
08/09/2008
Qualidade e vagas,os dois maiores desafios na educação
Mais matérias