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REFLEXÃO


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urbanidade
01/12/2004
Doidos por internet

Numa pequena casa da rua Otonis, na Vila Mariana, indivíduos recebem tratamento para combater um mal real provocado por um vício virtual: a dependência de internet. Por trás dessa experiência está o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Universidade Federal de São Paulo.

Na década de 80, Dartiu fazia pós-graduação em dependência química em Paris, onde acompanhava testes com drogados. Via projetos, ainda muito mais polêmicos na época, de distribuição de seringas para evitar a propagação do HIV e de substituição de cocaína ou heroína por drogas mais leves. É o que se chama de redução de danos.

Ao voltar para o Brasil, Dartiu estava entusiasmado com programas de redução de danos e cercou-se de psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. A casa da Vila Mariana, na vizinhança da Universidade Federal de São Paulo, virou um laboratório para cuidar de dependentes químicos. A cidade vivia a epidemia do crack. "Era um terror", lembra. Do terror nasceu uma experiência que percorreria círculos acadêmicos mundiais: meninos e meninas, todos com acompanhamento terapêutico, se dispuseram a trocar o crack pela maconha. Para surpresa dos pesquisadores, muitos daqueles adolescentes largaram o crack e, depois, também a maconha.

Esse tipo de resultado estimulou o governo federal a lançar projeto neste mês para criação de salas de redução de danos, em que dependentes recebem, legalmente, drogas mais leves.

Desde os primeiros tempos do crack, aquele laboratório teve mudança de clientes. Além dos drogados, passaram a chegar pessoas com problemas em jogo, sexo e compras. Vieram agora os internautas que, entregues à obsessão virtual, perderam emprego ou começaram a ter sérios problemas familiares. "Achamos que deveríamos encarar os internautas do mesmo jeito que encaramos dependentes de drogas."

Os primeiros resultados, ainda bem preliminares, indicam que a matriz da dependência dos internautas é a mesma dos demais viciados: uma dor a ser aliviada de algum jeito." O pior caminho é punir a vítima, fazendo-a sentir-se culpada ou criminosa pela sua doença", analisa. Tirando a culpa de lado, o caminho continua difícil, mas, segundo ele, já é possível encontrar saída.


Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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