Tasso Gadzanis, 67 anos, descobriu
um jeito de relaxar enquanto trabalha trancado numa sala:
criar gansos. "Todos os dias, tenho uma novidade para ver.
É um jeito de esquecer os problemas." Os problemas são encontrar
meios de fazer da caótica, suja, barulhenta e violenta São
Paulo um lugar mais atraente para turistas.
No início deste ano, ele foi convidado para trabalhar no SPTuris
(novo nome do Anhembi Turismo), num escritório com vista para
um espelho-d'água. "Achei a paisagem meio triste, sem graça."
Pensou, então, como seria mais alegre poder assistir a um
desfile de cisnes, altivos e elegantes, nadando bem à sua
frente. "O preço dos cisnes me desanimou." Na falta de cisnes,
pegou emprestado de seu sítio um casal de gansos.
No sítio, está seu refúgio, onde, além de animais domésticos,
cultiva uma biblioteca especializada na África. Nascido em
Alexandria (Egito), ele veio ainda menino para o Brasil e
acabou aprendendo a sobreviver pelas viagens. Poliglota, tornou-se
agente de turismo. Numa dessas andanças, conheceu o fotógrafo
e etnólogo francês Pierre Verger, que documentou as influências
africanas no Brasil.
Traduziu os livros de Verger e acabou se apaixonando pela
África, a tal ponto que se tornou cônsul de Benin em São Paulo.
Aproveitava o fato de ser agente de viagens para ir conhecendo
lugares exóticos e, ao mesmo tempo, ia montando uma biblioteca
sobre assuntos afros. O que o deixou famoso no emprego, entretanto,
não foi a coleção de livros. Foram os gansos.
Não imaginava que as aves se transformariam numa espécie de
diversão pública para seus colegas, especialmente depois que,
no mês passado, nasceram três filhotes. O cotidiano dos gansos
virou um dos temas preferidos entre os funcionários. Diante
da adoção coletiva, já percebeu que dali as aves não sairão
nunca mais. Na semana passada, Tasso espalhou pequenos peixes
no lago para que também se agreguem garças ao visual.
Não desistiu do antigo projeto e iniciou uma campanha dentro
da prefeitura para encontrar doadores de um casal de cisnes.
"Até o fim do ano, se não tivermos o doador, vamos fazer aqui
mesmo uma vaquinha." A paisagem de São Paulo pode não ter
melhorado, mas a dele, pelo menos, virou uma microatração
turística.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
|