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Com o
uso da tecnologia, elas integram cultura, educação,
saúde, lazer, esportes e trabalho
Há dois meses, um grupo de 20 adolescentes participa
de uma caça ao tesouro digital para montar um mapa
para quem tem pouco dinheiro.
Os investigadores são alunos de escolas públicas
e moram nas regiões mais distantes da cidade de São
Paulo, marcadas pela pobreza e violência, com escassas
ofertas de lazer, educação e cultura.
Na semana passada, eles mostraram os primeiros resultados
dessa caça ao tesouro, expostos em sites, blogs ou
twitters. Localizaram, em seus bairros, bandas de música,
grupos de dança, saraus de poesia, cinemas em becos,
estúdios multimídias, bibliotecas comunitárias,
cursos profissionalizantes.
O exercício serve para preparar agentes comunitários
de comunicação. Todos aqueles jovens serão
chamados a trabalhar, por alguns meses, em telecentros, transformando-os
em mais do que um punhado de máquinas ligadas à
internet, mas num espaço para conectar o bairro, do
posto de saúde, até a escola, passando por subprefeitura,
bibliotecas comunitárias e parques.
Sem saber, eles estão conectados com o que a Escola
de Administração de Harvard aponta, num documento
lançado há um mês, como o futuro de gestão
pública -é um manifesto pelas cidades inteligentes.
Cidade inteligente é aquela que integra ao máximo
seus serviços (cultura, educação, saúde,
lazer, esportes e trabalho), tirando proveito das tecnologias
de comunicação, segundo o texto de Rosabeth
Kanter, professora de Harvard e apontada pelo jornal "Times",
de Londres, como uma das 50 mulheres mais influentes no mundo
dos negócios . Conhecemos, no Brasil, vários
avanços provocados pela internet.
Hospitais usam a telemedicina, fazendo que centros de excelência
cheguem aos locais mais remotos; governos economizam com os
pregões eletrônicos; nenhuma modalidade de educação
cresce como o ensino a distância; entregar o imposto
de renda ficou mais fácil São Paulo não
teria reduzido com tamanha rapidez seu índice de assassinato
se não tivesse, no final da década de 1990,
montado um banco de dados sobre onde acontece o crime e investir
mais em inteligência.
Esse tipo de sistema é apontado no manifesto de Harvard
como uma das explicações para a queda dos crimes
ter sido mais acentuada em Nova York, Los Angeles e Chicago.
Em essência, a proposta baseia-se na ideia de que as
novas tecnologias permitem uma gestão integrada.
Um dos exemplos mencionados é realizado no Harlem,
em Nova York, que levou o presidente Obama a lançar
o programa batizado de "Bairros de Futuro". Integram
uma mesma rede os serviços à primeira infância,
atendimento a jovens grávidas, enfrentamento à
evasão, revitalização urbana, apoio aos
pais que buscam emprego, ajuda com lição de
casa, projetos de arte e esportes, estímulos para que
o jovem conclua o ensino médio e entre na faculdade.
Em Baltimore, um portal permite ao cidadão acompanhar,
em tempo real, da situação do crime, em cada
rua, até a grama que não foi cortada, o lixo
numa esquina, o atendimento em centros de saúde. A
partir dessa página, estão conectadas dezenas
de agências governamentais e uma série de linhas
para reclamação.
Em Boston, montou-se uma conexão entre as bibliotecas,
escolas e centros comunitários, na qual adultos, muitos
deles voluntários, tutoram crianças e jovens
até a noite. Em Nova York, criou-se um sistema integrado,
envolvendo dezenas de parceiros, para depois que o aluno sai
da escola -aliás, é leitura indispensável
o livro, produzido pelo Instituto Braudel recém-publicado
sobre a reforma educacional em Nova York, comparando com o
Brasil.
Saíram também nas últimas duas semanas,
mais duas obras que abordam a questão da nossa gestão
escolar, trazendo comparações internacionais:
"Vantagem Acadêmica de Cuba", Martins Carnoy,
professor de Stanford; e "Educação Básica
no Brasil", uma coletânea com algumas das melhores
cabeças de nossa intelectualidade. Nunca se lançaram,
ao mesmo tempo, tantas e tão profundas análises
sobre o que perdemos por falta de gestão -e uma das
razões disso, entre outras, é de integração
das políticas públicas.
Somos um país em que quase ninguém se incomoda
com o fato de estudantes não aprenderem por que não
enxergam ou ouvem direito -porque não se coordenam
os programas de saúde e educação. Numa
cidade como São Paulo, ninguém protesta porque
as bibliotecas ficam fechadas aos domingos.
Também pouca gente se incomoda com o Vale-Cultura,
cujo montante pode chegar a R$ 7 bilhões ao ano, ser
lançado sem um projeto educativo, o que vai se traduzir
em dinheiro público para shows de funk, pagode e música
sertaneja.
Pelo jeito, aqueles jovens da periferia de SP, com seus mapas
digitais, estão mais próximos de Harvard.
PS - Coloquei neste
link os blogs em desenvolvimento pelos adolescentes e
o texto (em inglês) feito em Harvard. Por coincidência,
foram lançados nas duas últimas semanas três
extraordinários livros sobre como funciona (ou melhor,
não funciona) a gestão educacional do Brasil.
Abaixo também a íntegra do livro sobre as reformas
de Nova York.
A
Reforma Educacional de Nova York: possibilidades para o Brasil
Cuba:
um País de Excelência em Educação
Informed
and Interconnected: A Manifesto for Smarter Cities
Ensino
abaixo da média
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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