REFLEXÃO


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urbanidade
19/09/2007

Mapa das bicicletas

André Pasqualini decidiu criar um mapa cicloviário entrevistando ciclistas para descobrir as melhores rotas

Da sua casa, no bairro do Campo Limpo, até o trabalho, na Vila Olímpia (ambos na zona sul da capital paulista), o analista de sistemas André Pasqualini ficou, por várias vezes, preso em congestionamentos que o deixaram quase duas horas no trânsito.

Para não correr mais o risco de atraso - e não ter de ficar parado -, ele prefere andar de bicicleta pelas ruas da cidade. O caminho sempre está livre e percorrê-lo não leva mais de 35 minutos. "Já fiz o trajeto em 20 minutos", orgulha-se.

Aos poucos, ele aprendeu os atalhos e as providências para diminuir os riscos, ganhando tempo e segurança. Nasceria aí a inspiração para utilizar de um novo jeito seus conhecimentos de analista de sistema, desta vez longe do escritório.

Com essa experiência, Pasqualini se transforma em um dos símbolos do Dia Mundial Sem Carro, mobilização que ocorrerá no próximo sábado em ao menos 56 cidades do Brasil -outras ainda podem aderir. "Sou apaixonado pela bicicleta e pela cidade", afirma Pasqualini.

Seu encanto com os passeios de bicicleta começou em 1992, quando um de seus colegas de trabalho, um ciclista inveterado, mostrou-lhe as fotos que tirava no caminho, observando detalhes quase clandestinos para quem estivesse dentro de um carro. Aventurou-se pelas mais diferentes rotas: durante 15 dias, por exemplo, percorreu o rio Tietê.

O prazer de Pasqualini, porém, estava mesmo em revelar os atalhos urbanos. Ganhou o hábito de ir ao trabalho pedalando. Para trajetos maiores, vai com uma bicicleta dobrável e pega o metrô.

De tanto percorrer a cidade -e ver tantos acidentes com ciclistas-, Pasqualini resolveu criar um mapa cicloviário entrevistando ciclistas para descobrir as melhores rotas da cidade de São Paulo.

O mapa começa a ser colocado no site criado por Pasqualini (www.ciclobr.com.br), onde, aliás, estão as imagens de um caminhão que quase o atropelou. "Nosso maior problema é o desrespeito."

A falta de ciclovias na cidade já foi alvo até de um protesto bem-humorado no mês passado, quando ciclistas de São Paulo pintaram com tinta branca um bicicleta na faixa da direita de avenidas da cidade, criando ciclovias por conta própria. O resultado do protesto pode ser conferido em vias como as avenidas Paulista (região central) e Sumaré (zona oeste).

Com o seu conhecimento em internet e em análise de sistemas, Pasqualini quer produzir um mapa interativo com diferentes oportunidades de trajeto -os ciclistas, conectados por satélite, ajudarão a manter o mapa atualizado, enviando dicas, algumas das quais em tempo real.

O projeto vai mais longe. Pasqualini quer entregar o mapa das rotas à Prefeitura de São Paulo, na esperança de que seja montado um plano de ciclovias, com a implantação de sinais e de espaços exclusivos. "O sonho de uma criança deveria ser ter uma bicicleta, não um carro", diz o analista de sistemas.


Simulação feita por André Pasqualini:

Avenida Carlos Caldeira (zona sul) atualmente
A mesma avenida com uma ciclovia

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Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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