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amazonas
08/03/2005
As mulheres que fazem os movimentos sociais

A fala de Lady Aquino, presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), durante o encontro Diálogos de Fundações, no final de fevereiro, em Brasília, não deixa dúvida sobre o seu caráter: firme, preocupada, engajada. Lady, ou melhor, Maria de Araújo Aquino e Dona Raimunda Silva são exemplos de lideranças femininas que surgiram no país nos últimos anos. Se antes o feminismo era representado por mulheres intelectuais, brancas e de classe média, hoje são as trabalhadoras rurais que reivindicam mais cidadania e ações.

Principalmente no Norte do país. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2003) mostram que a mulher brasileira vem superando o homem em diversos setores do mercado de trabalho, sobretudo na liderança de movimentos sociais, mas ainda não consegue alcançar os melhores salários e cargos. No que depender da região Norte, a inferioridade com relação aos homens tende a cair.

Aos 39 anos, Lady Aquino, que mora em Xapuri, no Acre, casada, mãe de um filho, viu sua vida mudar ao assumir a presidência do GTA e abandonar o campo, onde era trabalhadora rural. A vida de Dona Raimunda Gomes da Silva, coordenadora da Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista do Conselho Nacional dos Seringueiros CNS, também perfaz o itinerário de uma lutadora: mãe de seis filhos, sendo um adotivo, há pouco tempo se aposentou como trabalhadora rural. Aos 64 anos, D. Raimunda, quebradeira de coco, mantém uma firme liderança. É em busca da autonomia em suas atividades econômicas que trabalham Lady Aquino e Dona Raimunda.

“A participação das mulheres vem crescendo de forma sólida ao longo dos anos, principalmente na política, que abriu espaço para que ampliassem o trabalho que vinham realizando no campo social. Existe também um crescimento do número de mulheres liderando os movimentos sociais. Um fato novo é que elas estão na gestão de movimentos não necessariamente feministas. Eu destacaria o caso do GTA e da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). São duas grandes redes sociais, que têm mulheres em sua coordenação, a Lady Aquino e a Valquíria Lima, respectivamente. Com seu trabalho, as duas vêm influenciando as políticas públicas e sociais e melhorando a vida de muita gente”, exemplifica Zezé Weiss, especialista em desenvolvimento social e sociedade civil do Banco Mundial.

Crédito para as mulheres
Para Lady Aquino, a questão da igualdade salarial com relação aos homens ainda é um desafio, embora tenham mais espaço no setor público e no produtivo. Uma das conquistas, segundo ela, foi o crédito específico para as mulheres. “Hoje a trabalhadora solteira, se inscreve no Incra e tem sua terra registrada em seu nome, o que antes era muito difícil de acontecer sem ajuda de um homem”, ressalta a presidente do GTA.

Lady Aquino coordena atualmente as mais de 600 organizações que fazem parte do Grupo de Trabalho Amazônico - GTA, órgão da sociedade civil criado em 1992 com o objetivo de promover a participação das comunidades da floresta nas políticas de desenvolvimento sustentável. A Rede GTA é formada por dezoito coletivos regionais em nove estados brasileiros que ocupam mais da metade do tamanho do país, envolvendo agricultores, seringueiros, indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco de babaçu, pescadores, ribeirinhos e entidades ambientalistas, de assessoria técnica, de comunicação comunitária e de direitos humanos.

A coordenadora do Conselho Nacional dos Seringueiros, Dona Raimunda Silva, também aponta alguns desafios que as mulheres vêm enfrentando na região Norte do país, como a questão da saúde: “Algumas mulheres não têm conhecimento do próprio corpo, pois muitos maridos não as deixam fazer os exames de prevenção no colo do útero, de câncer de mama”, revela. D. Raimunda, acrescentando que as dificuldades de deslocamento e comunicação na região Norte também dificultam o acesso a esses recursos. Ela acredita que as parcerias com os setores públicos e, por que não, com organismos internacionais são caminhos para combater o problema da saúde e para gerar o desenvolvimento sustentável na Amazônia como um todo.

Dona Raimunda Gomes foi a primeira coordenadora eleita para a Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista do Conselho Nacional dos Seringueiros, criada em 1995 em reconhecimento à importância das mulheres nos movimentos organizados. Incentivou as mulheres a obter identidade própria e a gerir os seus negócios. A secretaria trabalha pela conscientização de ambos os sexos, levando até as comunidades das reservas extrativistas programas de educação, saúde, combate à pobreza e fortalecimento do papel da mulher nas cooperativas e associações.

Sobre a atuação do poder público nessa área, Dona Raimunda avalia: “Participamos do primeiro encontro de políticas públicas para as mulheres e acredito que o governo tem exercido um papel importante ao abrir espaço para a participação de entidades diversas”. Ela defende que a atuação em parceria é fundamental para incentivar a agricultura familiar e o desenvolvimento sustentável: ”As prefeituras podem fortalecer os bons programas que já existem, direcionando recursos ou ajudando a captar de outras fontes e aprimorar a gestão”.

Restauração da cidadania
A fotógrafa Claudia Ferreira, que lança nesta semana o livro Mulheres em movimentos (Ed. Aeroplano), junto com a médica Claudia Bonan, há vinte anos acompanha os movimentos sociais e de mulheres no país. “A grande mudança do feminismo, nos anos de 1990, foi a introdução de outras mulheres e com isso o movimento deixou de ser de intelectuais brancas de classe média. Com a entrada das trabalhadoras rurais, das mulheres negras e indígenas, das lésbicas, houve uma ampliação do movimento e um envolvimento maior com a restauração da cidadania e da redemocratização”.

Lady Aquino mostra isso na prática. Aprimorar a gestão das entidades também é uma preocupação do Grupo de Trabalho Amazônico. Aquino revela que o GTA trabalha há um ano em um projeto para a articulação de empreendedoras da região Norte. “Primeiro estamos fazendo um diagnóstico da situação dessas mulheres para conhecer que tipo de artesanato, alimentos e produtos elas desenvolvem para que depois possamos auxiliar melhor na gestão e nos processos”.

Segundo a presidente do GTA, as perspectivas para 2005 são positivas: “A articulação de empreendedoras pode ajudar na busca de soluções e de mecanismos para facilitar o escoamento dos produtos, um dos grandes desafios nessa área”.

AMANDA VIEIRA
VALÉRIA LAMEGO
DANIELLE CHEVRAND
do site da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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