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fábrica do futuro
12/07/2004
Projeto oferece 27 cursos para comunidade carente

Uma vez por semana, a dona-de-casa Sueli de Mendonça desce da Rua 1, na parte alta da Rocinha, onde mora, até o Ciep Ayrton Senna, na entrada do túnel Zuzu Angel, na auto-estrada Lagoa-Barra. É ali que, nas tardes de sábado dos últimos dois meses, ela tem participado da Fábrica do Futuro. Desenvolvido por e para moradores da comunidade da Zona Sul do Rio, o projeto promove cursos e atividades para cerca de 1.200 alunos.

Como costumam dizer os coordenadores da Fábrica, tudo é voltado “para jovens dos 4 aos 80 anos”. As atividades são as mais variadas: há desde aulas de cestaria ao aprendizado de forró e lambaeróbica, passando por basquete e confecção de bijuterias. Ao todo, são 27 cursos, praticamente gratuitos. Praticamente porque, além das duas fotos 3 x 4 necessárias à inscrição, a única taxa que se paga é de R$ 3 para a confecção de uma carteirinha.

“Todas as pessoas que vêm conhecer a Fábrica se impressionam quando a gente diz que não tem apoio e nem patrocínio. Na verdade, temos um sub-apoio do Ciep, que é do Estado e fica ocioso nos finais de semana. Usamos as salas até como forma de otimizá-lo”, fala José Armando de Lima, mentor do projeto. Aos 31 anos, ele é bem mais conhecido como Armando da Quadrilha, já que é também é quem organiza o grupo de caipiras e a festa junina na Rocinha. Há um ano e meio, resolveu promover cursos para o pessoal da comunidade. Como conhece muita gente, começou a chamar os amigos para dar aulas.

“A Fábrica do Futuro está aí para mostrar que não dependemos de ninguém, que quando o morador se mobiliza a coisa acontece”, fala Armando. Todo mundo é voluntário, como ele faz questão de dizer. “Aqui ninguém recebe para trabalhar; a única recompensa é o sorriso da direção e o agradecimento dos alunos, dos pais, enfim, dos participantes”, fala.

Agradecimentos que podem vir em forma de depoimentos como os de Sueli, de 27 anos. “Aprendendo a fazer velas e sabonetes, estou arrumando um outro meio de vida. É uma forma de conseguir um ganho extra”, anima-se ela, que freqüenta uma das oficinas de artesanato do projeto.

Jovens coordenam atividades
Para ajudá-lo a dar forma à Fábrica, Armando convidou jovens para coordenar as atividades de apoio. A escolha teve uma razão simples. “Sempre lidei com o público e, particularmente com jovens na quadrilha. Sei que eles resolvem as coisas. Se engana quem acha que eles não têm responsabilidades. Só precisam é de orientação”, explica.

Na Fábrica, isso tem mostrado na prática que dá certo. São 35 coordenadores, entre 14 e 21 anos. “Foram eles que deram o pontapé inicial aqui. E movem este projeto como ninguém. Aliás, o projeto Fábrica de Futuro é muito mais deles do que meu”, analisa.

Bianca da Silva, de 17 anos, estudante do segundo ano do Ensino Médio, tem se dedicado ao projeto desde o seu início. “Quando o Armando me chamou para participar, aceitei. No começo, éramos só eu, ele e mais quatro pessoas. Tudo foi crescendo”, lembra ela, que durante a semana trabalha num cybercafé na favela.

Mas o que leva uma adolescente a perder um sábado de sol para ser voluntária? “Gosto de ver o trabalho das pessoas, os resultados, o sorriso de quem está aprendendo”, responde ela. Como coordenadora, estão sob a responsabilidade de Bianca a aquisição e reposição dos materiais usados nas aulas. Não fica só nisso. "Faço de tudo aqui”, simplifica.

Bijuterias, cestaria, velas, artesanato
O entusiasmo de Bianca é movido pelo mesmo motivo que leva Rosamaria Alves Souza, de 30 anos, a sair de sua casa na vizinha favela do Vidigal para a Fábrica. Rosamaria aprendeu, através de revistas, como fazer artesanato de velas e decidiu repassar seus conhecimentos aos alunos do projeto. “Hoje já estou trabalhando com uma turma de 25 pessoas”, conta, orgulhosa, a professora.

O que também incentiva a baiana Amélia Margarida Gonçalves, de 73 anos, que pilota um dos cursos que mais faz sucesso entre o público feminino: o de bijuterias. Sua turma tem cerca de 40 inscritas. “Antigamente aprendíamos artesanato na escola; depois, me aperfeiçoei no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Agora, também dou aulas”, fala.

Uma de suas alunas é Maria Gorete Lopes da Silva, de 40 anos. “Já havia aprendido cestaria, mas não resisti às bijuterias. Quero aumentar minha renda e no futuro também poder ensinar”, promete. Entre um curso e outro, Maria Gorete já está freqüentando a Fábrica há dez meses.

Para Armando, que é consultor da empresa de telefonia móvel Claro, a Fábrica do Futuro é a realização de um sonho antigo. “O morador de uma comunidade como a Rocinha tem alguns privilégios mas vive também suas mazelas. É uma grande concentração de pessoas em um espaço geográfico pequeno e com muitas necessidades, esportivas, culturais, médicas e de saneamento. É difícil ver isso durante 31 anos. Então, fazer o quê? Ir morar em outro lugar? Até já tenho condições financeiras para isso, mas prefiro realizar alguma coisa aqui mesmo”, explica ele, que tira do próprio bolso o dinheiro para a compra de material para os cursos.

Otimista com o crescimento do projeto, Armando já está pensando em registrá-lo e transformá-lo numa ONG. "Se ainda não é, provavelmente vai se tornar até pela força que tem, com a força que se criou. Todos os que trabalham aqui estão muito empenhados no que fazem. É como se fosse um vírus que está pegando em todo mundo”, resume.

VILMA HOMERO
do site Viva Favela

 
 
 

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