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13/10/2003
Jeans, crepe e fuxico: essa é moda da Cidade Tiradentes

Ela não tem os 1,20 metro de pernas de Ana Hickman, nem chega perto do quase 1,85 metro de altura de Gisele Bündchen, mas o frio na barriga que Bárbara Aurelino, de 15 anos, sentiu ao desfilar pela primeira vez deve ter sido parecido ao das tops em suas estréias.

Coube a ela, no auge dos seus 1,62 metro de altura, a missão de apresentar, junto de mais 7 meninas, o primeiro desfile de moda da Coocity (nome provisório), a primeira grife nascida em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. "Só em sonho eu pensei que um dia seria modelo", disse Barbara, enquanto ajudava as amigas a se maquiarem para o evento.

Criada e bancada pela Associação dos Moradores e Mutuários do Conjunto Habitacional Santa Etelvina (Acetel), a marca mostrou seus primeiros modelitos em um desfile ontem, entre um show de pagode e outro, em um palco improvisado na Cidade Tiradentes mesmo.

Na platéia, em vez de especialistas do mundo fashion, estavam pais, mães, parentes e amigos orgulhosos e a fim de conferir as tendências de moda da Coocity.

"Desenhei os modelos e com a ajuda das costureiras saí em busca dos tecidos no Bom Retiro", contou a estilista da grife, Verônica Rodrigues, de 19 anos, que deve retomar seu curso de estilismo no próximo ano, se a marca der certo.

"As roupas terão boa qualidade, baixo custo e a cara do que o pessoal daqui gosta de usar. Não adianta nos inspirarmos nas revistas de moda, nas tendências internacionais, somos um mundo a parte. A Cidade Tiradentes tem seu próprio estilo de vida, por isso, tem de ter sua própria moda."

Como há muitas igrejas evangélicas na região, a marca pensou nesse público trazendo entre as peças da coleção saias mais longas e vestidos clássicos.

Para as meninas mais jovens e modernas, que buscam roupas justas, peças em stretch. Já para as crianças, que gostam de roupas mais confortáveis, apostaram na praticidade do jeans.

Apoio
Além de força de vontade, o desfile contou com a solidariedade dos moradores do conjunto. As modelos - com idades entre 4 e 18 anos, a maioria filhas das costureiras da grife - trouxeram de casa seus melhores sapatos e adereços para incrementar a estréia da marca.

Cabelos e maquiagem foram feitos pela professora do curso profissionalizante de cabeleireiro da região.

"As meninas aprenderam a desfilar em um curso intensivo de dois dias com uma garota que já tinha feito um desses cursinhos de manequim", falou a estilista da Coocity.

Na passarela de Cidade Tiradentes, saias e vestidos de tecidos fluidos como o crepe, e calças estruturadas de jeans com lycra predominaram. A ordem da primeira coleção primavera-verão da grife é usar e abusar dos tons laranja, pastel e terra, inspiração buscada nos prédios do Conjunto Habitacional Santa Etelvina.

Para as mais jovens, calças pescador de cintura baixa realçando a barriguinha de fora e tops mais ajustados, quesito obrigatório entre as meninas que querem arrasar na região. Blusas e saias transpassadas despontam como o carro-chefe da coleção.

Investindo em um estilo que lembra Jade em O Clone, os vestidos de festa da grife não marcam tanto o corpo e podem ser usados por mulheres de todas a idades e gostos.

"Me inspirei nas cores dos prédios da região como uma forma de homenagear esse lugar", contou Verônica. "Também teremos muita roupa com apliques de fuxico, pois temos uma escola que ensina a fazer isso na comunidade", explicou ela, já fazendo planos de lançar no próximo ano maiôs e biquínis e também moda masculina na grife.

"Achei tudo muito chique, bem feitinho, parece roupa de shopping", disse a doméstica Lucimara Lins, de 29 anos, que assistiu ao desfile.

Para o presidente da associação de moradores da região, Silvio Amorim, além de facilitar a compra de roupas boas em Cidade Tiradentes (o shopping mais perto fica a uma hora de lá), a grife vai proporcionar empregos e aumento renda para muitas pessoas da comunidade. "As peças serão confeccionadas pelas 32 costureiras de nossa cooperativa e esperamos contratar mais gente ", disse ele.

"Também teremos vendedoras que vão trabalhar como "sacoleiras", de porta em porta, levando os catálogos da marca", explicou a estilista Verônica. "Roupa boa, barata e que faz a comunidade crescer, isso sim é fashion", garantiu ela.

 

KEILA JIMENEZ
Do jornal O Estado de S. Paulo

 
 
 

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