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formação
17/05/2005
Líderes para a sociedade civil

Criado em 1946, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) tem um longo histórico de contribuições prestadas à sociedade brasileira. Por meio de seus cursos de formação, já preparou mais de 40 milhões de pessoas para o setor de Comércio e Serviços, ajudando-as a conseguirem uma vaga no mercado de trabalho. Adaptando-se às mudanças ocorridas ao longo do tempo, o Senac passou a atuar também na área do terceiro setor. Um exemplo disso é o Programa Formatos Brasil – Formação de Atores Sociais para o Desenvolvimento Comunitário.

“Percebemos que não bastava levar apenas a educação à população”, conta o gestor do Formatos Brasil, Sérgio de Oliveira e Silva. “Começamos, então, a trabalhar com a educação comunitária nas dimensões produtiva e organizativa. E, logicamente, a dimensão organizativa envolve os conceitos de sociedade civil organizada e terceiro setor.” Essa aproximação com a educação comunitária aconteceu em 1992, na época da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e um ano antes da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida ser fundada por Betinho. Ou seja, no mesmo momento em que começava a ser popularizado no país o termo organização não-governamental (ONG).

O Senac passou a oferecer cursos de capacitação para profissionais do terceiro setor, mas a procura era intensa. “Havia uma grande demanda e poucas alternativas. Abríamos turmas com 100 vagas e recebíamos três mil candidatos, inclusive de outros estados. Era preciso trabalhar em escala”, lembra Sérgio, que atua na unidade Penha do Senac de São Paulo. Em 2003, o Senac-SP organizou o Programa Formatos 500, que capacitou 500 gestores de organizações comunitárias da capital paulista.

O sucesso do programa e as parcerias com a The Johns Hopkins University e a Fundação Banco do Brasil levaram o Senac a expandir o Formatos a outros 12 estados brasileiros: Amazonas, Pará, Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2004 foram atendidas 580 lideranças comunitárias desses estados. Para este ano, a meta é mais ambiciosa: capacitar cinco mil pessoas. Só em São Paulo, cujas aulas começam no próximo dia 16, serão 1,5 mil alunos.

No ano passado, graças a um convênio com o consulado norte-americano de São Paulo, uma equipe do Senac visitou diversas ONGs dos Estados Unidos e a The Johns Hopkins University, instituição que abriga uma das principais pesquisas sobre o terceiro setor no mundo. Alguns meses depois, sete especialistas da universidade vieram ao Brasil para capacitar 27 facilitadores do Senac. Esses facilitadores são os professores do Formatos Brasil. A troca de experiências entre norte-americanos e brasileiros permitiu um intercâmbio entre as metodologias das duas organizações. “A metodologia não está fechada. Ela adquire diferentes formatos de acordo com a demanda das organizações e das localidades. Levamos em conta o contexto”,explica Sérgio.

Atualmente, o conteúdo do programa é composto por uma carga horária de 112 horas que englobam aspectos conceituais do terceiro setor (redes sociais, economia solidária e desenvolvimento local integrado e sustentável), ferramentas de gestão (planejamento estratégico, elaboração e avaliação de projetos sociais, formação de parcerias e captação de recursos) e empreendedorismo social. “Geralmente, os ‘ongueiros’ abraçam uma causa, mas não se preparam para dirigir uma organização”, ressalta o gestor Sérgio. O programa atende apenas a organizações de base comunitária e de interesse público.

Novas visões
Uma das pessoas capacitadas pelo Formatos em 2003 foi a psicóloga Rosana Tozato, diretora da Associação Nossa Escola, no bairro de Vila Prudente, Zona Leste de São Paulo. A entidade agrega pais de alunos da Nossa Escola, que alfabetiza, qualifica e inclui no mercado de trabalho pessoas com deficiência mental. Segundo Rosana, as aulas do programa vieram em um momento oportuno, pois há três anos o mantenedor único da escola anunciava que a partir daquele momento não iria mais poder arcar com todas as despesas da escola. Os pais criaram a associação para conseguir novos parceiros e não serem obrigados a fechar a unidade de ensino. “Começamos perdidos. Não fazíamos idéia do que era terceiro setor e como captar recursos”, recorda Rosana. Hoje, se ainda não conseguiu sua auto-sustentabilidade, a associação conta com 22 parceiros, que doam dinheiro, material gráfico, essências para a produção de sabonetes, computadores e outros objetos.

“Éramos limitados ao trabalho da escola, à parte pedagógica. Não tínhamos uma visão da comunidade. Com o curso do Senac, ganhamos outros parceiros e uma nova visão do terceiro setor”, agradece a diretora da Associação Nossa Escola, integrante da Rede Vila Prudente, composta por cerca de 15 entidades do bairro. “Reunimo-nos uma vez por mês, trocamos doações e materiais, entramos juntos em eventos e buscamos soluções conjuntas para problemas em comum”, enumera Rosana.

Sérgio de Oliveira, gestor do Formatos, ressalta que uma das propostas do programa é justamente que as organizações se articulem em redes após a capacitação. Para ele, uma das questões cruciais ensinadas pelo Formatos é a diferenciação entre a causa e a organização. Sérgio explica que a gestão do terceiro setor é baseada no mundo empresarial, mas lembra que as ferramentas de gestão das empresas foram criadas para que elas se perpetuem. As organizações do terceiro setor, no entanto, lutam justamente para que as causas que as originaram sejam eliminadas. “Primeiramente, as pessoas abraçam uma causa: deficiência, crianças de rua, trabalho infantil etc. E, para trabalhar com essa causa, cria-se uma organização. A causa tem que ser sua razão de ser. As organizações têm que buscar ser mais eficazes, profissionalizar-se, trabalhar de forma cooperada e ser auto-sustentável, senão o líder social vira gerente de um negócio”, conclui.

IVAN AKASAHARA
do site da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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