Um projeto atua com crianças e adolescentes filhos
de dependentes químicos, o outro, visa a prevenção
do abuso de drogas em pré-adolescentes em idade escolar.
Trata-se dos projetos Cuida e Independência, ambos realizados
pelo Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
da Escola Paulista de Medicina), que tem como foco a diminuição
de problemas relacionados ao uso de drogas.
Segundo Neliana Figlie, coordenadora
geral dos programas, os projetos surgiram da necessidade de
trabalhar a prevenção, e não apenas o
tratamento. “Por incrível que pareça,
no Brasil é dado mais importância ao tratamento
do que a prevenção, sendo que a prevenção
tem um custo bem mais baixo e evita problemas futuros”,
diz .
Neliana afirma que o projeto Cuida
é pioneiro no país quando se trata de cuidados
com filhos de dependentes. “A dependência química
na família pode trazer diversas complicações
no desenvolvimento da criança. É bem possível
que ela cresça com dificuldades de comunicação,
ansiosa e insegura. Além disso, a criança pode
apresentar problemas de auto-estima baixa, ou exageradamente
alta, sentindo-se um ‘herói’ perante os
outros”, dizNeliana. A psicóloga conta ainda
que essas crianças tem mais facilidade para se tornar
dependentes.
O projeto realiza trabalhos focados
principalmente na personalidade reveliente, ou seja, na capacidade
de a criança reagir ao stress dentro de casa de maneira
positiva. As crianças têm disponível um
espaço comunitário que oferece tratamento especializado,
onde podem compartilhar, se informar e se fortalecer emocional
e socialmente sobre os problemas que fazem parte de um lar
com a dependência química presente.
Já o Projeto Independência
trabalha diretamente com a questão da prevenção
do uso de drogas na adolescência. Para isso, é
feito todo um trabalho com professores do Ensino Fundamental
(que trabalham com crianças de 10 a 15 anos), para
que estes abordem o tema de forma clara e minimamente preconceituosa.
Neliana conta que o projeto foi elaborado a partir das necessidades
apresentadas pelos próprios profissionais das escolas,
de forma a dar a eles conhecimentos e recursos para desenvolverem
atividades preventivas.
Embora os professores recebam todas
as informações teóricas sobre drogas
e dependência química, este não é
o foco principal. Para não entrar em choque com a comunidade
e evitar represálias, na metodologia desenvolvida pela
Uniad não se fala das drogas diretamente, a não
ser que surja uma demanda diretamente dos alunos. Os professores
são orientados a trabalhar atividades preventivas,
melhorando a comunicação dos alunos, desenvolvendo
um espírito crítico e dando destaque a liberdade
de expressão, qualidade de vida, saúde e outros
aspectos que diminuem os riscos.
Aos poucos, a iniciativa foi sendo
aprimorada e a equipe quis estender a capacitação
aos adolescentes, para formar líderes que implementassem
ações preventivas não só nas escolas,
mas também nas comunidades onde vivem. Para isso, foi
criada uma parceria com o consulado americano de São
Paulo para a formação do projeto Folia (Formação
de Líderes de Atitude). Baseado no modelo americano
do Teen Institute, programa utiliza uma metodologia de valorização
dos jovens e da transmissão da mensagem de igual para
igual.
Neliana diz que o modelo americano
precisou ser adaptado para a realidade brasileira: "Os
americanos pregam muito aquela coisa do ‘diga não
às drogas’. Percebemos que aqui esta abordagem
geraria confronto e uma certa rejeição. Então
resolvemos colocar a questão de outra forma, mais indireta,
valorizando o jovem, e trabalhar também com a redução
de danos”, afirma a psicóloga.
Por três dias, os adolescentes
participaram de oficinas e aprenderam sobre sexualidade, drogas,
habilidades de comunicação e resolução
de problemas, entre outros temas. No final da capacitação
desenvolveram planos de atividades preventivas para serem
implementadas nas escolas. "Não precisa ser algo
relacionado diretamente às drogas, mas deve ser algo
que promova a melhoria do ambiente escolar e a participação
dos outros alunos", diz Neliana.
O financiamento fornecido pelo governo
foi cortado em dezembro de 2002, por isso, nos meses mais
recentes, a equipe do Independência continuou o trabalho
de forma voluntária e o Folia pôde atender estudantes
de apenas quatro escolas. Ainda assim, a iniciativa foi brindada
com o reconhecimento da Mentor Foundation, organização
internacional que atua na prevenção ao uso de
drogas entre jovens.
Tanto o projeto Cuida quanto
o Independência possuem sites dedicados ao seu público-alvo.
Os sites contam com mais informações relacionadas
aos projetos, além de testes psicológicos e
questões frequentes na vida da criança e do
adolescente.
Cássia Gisele Ribeiro
Do site Aprendiz
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