A
vida sexual do brasileiro passa pelo bolso?
Uma pesquisa
de opinião divulgada na quinta-feira passada pelo Instituto
de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) abordou
um tabu masculino, ao trazer a público números
sobre a chamada disfunção erétil - um
mal que atinge, em maior ou menor grau, quase a metade dos
homens.
Entre
as várias possíveis explicações
para o problema, segundo os realizadores da pesquisa, está
o estresse provocado pelo excesso de trabalho, combinado com
uma vida sedentária e uma alimentação
desregrada. De cada 100 brasileiros adultos, 25 não
descansam nem sequer nas férias e dormem pouco.
Se a sexualidade
de uma parcela dos brasileiros anda em baixa, há ao
menos uma coisa que atinge o bolso dos brasileiros e que não
pára de subir: os impostos.
Naquela mesma quinta-feira, o Instituto de Planejamento Tributário
divulgou estudo sobre a evolução dos impostos
desde a década de 70. Há 30 anos, o brasileiro
suava, em média, 76 dias para pagar seus impostos;
no ano passado, o número de dias trabalhados para o
fisco chegou a 133.
Não
é só. Na década de 70, era necessário
um mês de batente para arcar com as despesas de saúde,
educação e segurança privadas; agora,
são necessários 98 dias. Toma-se aqui como modelo
uma família com dois filhos e salário de R$
5.000.
Leitores
devem achar que este colunista está forçando
a barra ao relacionar assuntos tão distantes como a
sexualidade e os impostos. Será?
Se é verdade que mais estresse no mercado de trabalho
afeta -como sugere a pesquisa dos psiquiatras- a libido, o
Brasil não tem sido exatamente um estímulo à
sexualidade.
Em poucas
palavras, os números dizem que o brasileiro paga mais
impostos, mas não vê melhoria no atendimento
público e, assim, continua obrigado a recorrer a escolas,
assistência médica e segurança privadas.
Para piorar, esses serviços estão mais caros.
Se também
é verdade, como garantem os economistas, que o excesso
de impostos é um obstáculo para a geração
de empregos, cria-se mais uma fonte de estresse: a tensão
cotidiana vinda do medo de ficar desempregado.
Levantei
a tenebrosa relação entre sexo e impostos apenas
para dizer que, em questão tributária, o brasileiro
é tratado como um bando de ovelhas.
O professor
da Fundação Getúlio Vargas de São
Paulo Yoshiaki Nakano comenta que, em nações
como o Chile, o México e a Argentina, há uma
carga tributária de 17% do Produto Interno Bruto. No
Brasil, o conjunto dos impostos atinge 36% do PIB, superando,
por exemplo, o percentual da Suíça e o dos Estados
Unidos.
Na semana
passada, o Ministério da Justiça anunciou investimentos
para combater a violência urbana. De onde vai tirar
o dinheiro? A resposta: de um aumento do imposto de empresas
de segurança. Se aumentar o imposto, adivinhe quem,
no final, vai pagar a conta.
Economistas
avaliam que, aprovada a reforma tributária como proposta
pelo presidente Lula, a carga de impostos pularia dos 36%
para 40% do Produto Interno Bruto -sem contar o que os indivíduos
terão de pagar a mais por causa da reforma da Previdência.
É
espantoso que, até agora, nenhum agrupamento político
tenha conseguido expressar o estresse e a insatisfação
da classe média -o segmento que mais paga imposto e
que tem mais dificuldade de bancar serviços que, num
país civilizado, deveriam ser públicos. Se o
que ocorre na cidade de São Paulo, onde há uma
inusitada gritaria contra impostos municipais, se tornar uma
tendência nacional, há alguma possibilidade de,
no futuro, diminuir o efeito ovelha.
Somente
mesmo uma passividade extrema explica que se aceite pagar
impostos de Primeiro Mundo e receber um tratamento de Terceiro
Mundo.
PS - Apesar
desse descalabro com impostos, os governos federal, estaduais
e
municipais encontraram mais um meio de tirar dinheiro da sociedade.
Presidente, governadores e prefeitos, em nome da palavra mágica
"parceria", raspam de empresas recursos destinados
a programas sociais e culturais. O incipiente terceiro setor
brasileiro é capaz de ver abatida sua consistência,
caso não se distinga dos governos, reproduzindo políticas
oficiais, em vez de gerar experimentações de
baixo custo e alta eficiência. Vale a pena acompanhar,
por exemplo, como vão acabar as doações
ao programa Fome Zero -um projeto que continua anêmico
embora não lhe falte o ferro da publicidade.
|
|
|
Subir
|
|
|