RIO DE
JANEIRO - A Assembléia Legislativa do Rio aprovou uma
lei que obriga as duas universidades públicas estaduais
a se adequarem para receber estudantes deficientes auditivos.
A proposta é que as instituições disponibilizem
intérpretes que utilizem a Língua Brasileira
de Sinais (Libras) para facilitar a compreensão dos
alunos. Eles explicarão questões do vestibular
para os candidatos surdos. Para os aprovados, traduzirão
o que os professores falam durante as aulas.
"Os deficientes não têm o mesmo entendimento
da língua portuguesa que nós temos", afirma
a deputada Georgette Vidor (PPS), autora da lei, junto com
o deputado Otávio Leite (PSDB). Por conta da falta
da tradução, atualmente a maior parte dos deficientes
é excluída do ensino superior. "Estamos
negando a essas pessoas uma capacitação profissional",
critica Georgette.
Um exemplo disso é Fernando Valverde. Hoje coordenador
de Ensino de Libras e Educação para Surdos,
ele não pôde cursar uma universidade, por falta
de oportunidade. "Nós temos a mesma dificuldade
para aprender português que qualquer brasileiro tem
de aprender alemão. É outra língua",
diz Valverde.
Jeane Lisa Ferraz, de 25 anos, é exceção.
Ela cursa Pedagogia na Estácio de Sá. Mas as
dificuldades são enormes: "Existem muitas palavras
difíceis que não entendo", conta. "Durante
as aulas, perco muita coisa que os professores falam, mas
não posso pedir para eles pararem para explicarem só
para mim." Ela trabalha com educação de
surdos e pretende continuar na carreira. "Conheço
muita gente frustrada porque não tem acesso ao ensino
superior".
Veto
Aprovado na Alerj em abril, o projeto foi vetado pela governadora
Rosinha Matheus (PMDB), que alegou que não há
recursos. Mas os deputados derrubaram o veto no mês
passado. Para entrar em vigor, será necessário
que Rosinha sancione a lei. Procurada pelo Estado, a Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) não se manifestou.
O pró-reitor de graduação da Universidade
Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Almy Junior Cordeiro
de Carvalho, elogiou a lei e lembrou que há uma outra,
federal, que apregoa que portadores de necessidades especiais
têm direito ao ensino superior. Carvalho contou que,
no último concurso, apareceu apenas um candidato às
cotas para deficientes. Era um rapaz parcialmente surdo, que
foi aprovado e agora está freqüentando as aulas,
mesmo sem a presença de um intérprete. Para
o pró-reitor, o tema é prioritário, mas
falta dinheiro. "Temos um grupo trabalhando nisso, mas
precisamos de recursos do Estado".
ROBERTA PENNAFORT
da Agência Estado
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