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desenvolvimento
16/07/2004
Falta de qualidade é o problema real da educação, dizem especialistas

A discussão sobre a quantidade de alfabetizados no Brasil esconde o problema real da educação no país: a falta de qualidade. Segundo o economista Marcelo Neri, diretor de Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a qualidade do ensino brasileiro é péssima para os padrões internacionais. A mesma opinião tem o economista Mauricio Blanco, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), que estuda desigualdade e desenvolvimento humano:

"Se o critério fosse a conclusão do ensino fundamental, a taxa cairia brutalmente. Esse indicador baseado apenas na quantidade não está captando a situação precária da educação no Brasil. O número médio de anos de estudo é vergonhoso, é de 6,2 anos. Ou seja, nem o ensino fundamental concluído, que daria oito anos — disse o economista".

Neri complementa:

"Certamente, o Brasil não estaria dentro do seleto grupo dos países de alto desenvolvimento humano em educação. Estaria entre os subdesenvolvidos. Esse dado é falso, portanto, não se pode acomodar. Dá uma falsa sensação de dever cumprido", diz.

O economista da FGV traz, porém, uma boa notícia: a qualidade do ensino parou de cair. Pelo Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) do Ministério da Educação e Cultura, de 2001 para 2003, a qualidade do ensino ficou estável.

Desempenho na leitura
O Saeb é realizado, a cada dois anos, por amostragem, nas quarta e oitava séries do ensino fundamental e terceira série do ensino médio, em matemática e língua portuguesa, com a participação de 300 mil estudantes. Pelos dados oficiais, 96,4% das crianças de 7 a 14 anos estão na escola, mas de cada cem alunos que iniciam o ensino fundamental, 40 não conseguem concluí-lo. Na quarta série, 55% dos estudantes não sabem ler de forma competente e, na oitava série, 58% estão abaixo do desempenho esperado em matemática.

" Tem uma imagem no espelho, enquanto a quantidade parou de crescer, a qualidade parou de cair. E a pesquisa inclui anos de governos diferentes, o último de Fernando Henrique Cardoso e o primeiro do governo Lula".

Desde 1995, as provas mostraram um desempenho cada vez pior nas avaliações. Alguns especialistas creditavam o resultado ruim ao aumento do acesso à escola, principalmente da população mais pobre:"Em parte, essa piora contínua poderia ser resultado da expansão. Mas há o componente de falta de qualidade do ensino mesmo, detectado por estudos feitos por nós", disse o economista.

Blanco, do Iets, vai mais longe. Para ele, as Nações Unidas precisam mudar a forma de aferição dos progressos na educação. Usar a conclusão no ensino fundamental e a freqüência no ensino médio seriam formas mais fiéis de mostrar os avanços:

"Em países de alto desenvolvimento, por exemplo, não há analfabetos e nemcrianças fora da escola".

CÁSSIA ALMEIDA
do jornal O Globo

 

   
 
 
 

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