Em meio à programação
de comemoração dos cem anos da Pinacoteca, fundada
em 25 de dezembro de 1905, a instituição será
submetida a uma reformulação administrativa,
passando a ser gerenciada pela sociedade civil, a partir de
junho próximo. Segundo Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca,
essa fórmula apenas oficializa uma prática já
existente na gênese da instituição: "Nosso
sucesso vem da parceria entre Estado e iniciativa privada".
A programação começa
com Henry Moore, mas tem mais de 50 eventos marcados, alguns
até fora da Pinacoteca, como uma mostra no prédio
da Fiesp, na avenida Paulista, a partir de agosto, sobre o
histórico da instituição, além
de uma exposição itinerante, com reproduções
do acervo, que irá circular por 25 cidades do interior.
Até mesmo a Banda Sinfônica do Estado tomará
parte do calendário: há sete músicos,
entre eles Arrigo Barnabé e Roberto Sion, que preparam
composições a partir do acervo para serem apresentadas
em junho.
Araujo conversou com a Folha sobre
o sucesso do museu mais visitado da cidade e os desafios de
sua nova fase administrativa. Leia a seguir os principais
trechos.
Folha de S.Paulo - Por que
começar as comemorações dos cem anos
da Pinacoteca com Henry Moore?
Marcelo Araujo - Henry Moore é
um dos mais emblemáticos artistas do século
20. Em seu trabalho se observam algumas das questões
mais importantes debatidas nesse período, como a passagem
do figurativo para o abstrato, a incorporação
de culturas distantes, as marcas da guerra e questões
construtivas.
Folha de S.Paulo - A exposição
de Rodin trouxe grande público ao museu. Qual a expectativa
com Moore?
Araujo - O Moore é a continuidade
à tradição que se criou aqui em apresentar
influentes escultores, como Rodin ou Camille Claudel, mas
ambos foram importantes no século 19. Com Moore, entramos
agora no século 20.
Folha de S.Paulo - A Pinacoteca
é, hoje, o museu com maior prestígio na cidade,
mesmo sendo do Estado, que em outras áreas não
consegue tanta eficácia. A que você credita esse
sucesso?
Araujo - Ela tem uma situação
privilegiada. Primeiro pelas instalações físicas,
são dois prédios qualificados. É o único
museu que pode mostrar arte brasileira do século 19
ao século 20 de forma adequada. Depois pela diversidade
do que se expõe aqui, sejam obras contemporâneas
ou tapeçaria francesa, o que traz um público
amplo. É na articulação dessas questões
-o edifício, o acervo, a diversidade e também
o setor educativo, outro ponto alto- que ela alcança
tanta visibilidade.
Folha de S.Paulo - Apesar
de ser um museu estatal, a programação sempre
teve apoio da iniciativa privada, e a Pinacoteca está
num período de transição para ser administrada
por uma organização social. Como está
esse processo?
Araujo - Em junho próximo,
a Pinacoteca já será administrada por uma OS
[organização social]. Estamos na fase de qualificação
da Associação de Amigos, que irá desenvolver
o papel gerencial, numa parceria que, de fato, já vem
ocorrendo aqui há cem anos. Não podemos nos
esquecer que a Pinacoteca surgiu no Liceu de Artes e Ofícios,
instituição privada.
Folha de S.Paulo - Mas não
há aí um risco de ela perder as condições
que lhe concedem esse papel privilegiado?
Araujo - A comemoração
dos cem anos é uma forma de afirmar o caráter
público da instituição. Além do
mais, na forma como estamos implementando a OS aqui, tanto
o diretor como o Conselho de Orientação continuarão
a ser indicados pelo governo estadual.
Folha de S.Paulo - Isso é
uma novidade...
Araujo - Sim, estamos lutando
para que isso ocorra, especialmente pela natureza da Pinacoteca:
a gestão será cedida a uma OS, mas o acervo
continua estatal, e as novas aquisições irão
para o Estado. O importante é que nesse novo sistema
haverá maior participação da sociedade
civil sem que o Estado abra mão de sua função.
FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo
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