Folha Online Ilustrada  
Crítica
16/07/2001 - 19h44

Televisão: Monique Evans mistura metalinguagem e sexo via internet

SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online

É a cara do Brasil: ex-modelo, rainha de bateria do carnaval da Marquês de Sapucaí envelhece, vira evangélica e vai ganhar a vida falando sobre sexo na TV.

Ana Carolina Fernandes

Nome: Monique Evans. Idade: 45 anos. Profissão: apresentadora do "Noite Afora", programa exibido após a meia-noite pela Rede TV!. Salário: R$ 25 mil por mês, segundo a imprensa.

Por incrível que pareça, foi educada por freiras, só teve o primeiro orgasmo após os 30 anos, fica ruborizada com o relato das fantasias sexuais dos entrevistados (sexo grupal, anal e troca de casais), fracassou no amor, está solteira e, apesar da beleza física, diz ter dificuldades de achar namorado. Revela que tem uma queda pelo charme do senador Eduardo Suplicy, separado da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.

Recém-convertida pela igreja evangélica Sara Nossa Terra, Monique é uma humorista de mão cheia, improvisa com facilidade, contraria o estigma de loura burra, dribla o amadorismo dos canais de terceira linha e se destaca como uma apresentadora promissora.

Ela criou um estilo alternativo para o erotismo verbal, gênero que se transformou em nova fissura da TV brasileira.

O programa de Monique é metalinguagem pura: destrói o formato manjado do "talk show", expõe os jogos e as relações de poder em um estúdio televisivo, transforma em arma de audiência a velha fórmula de matar a curiosidade do público médio sobre o que se faz ou "se deve fazer" entre quatro paredes.

No ar, ela reclama da misteriosa diretora, uma espécie de Marlene Mattos para altinhos que fica azucrinando por meio do ponto eletrônico, lembrando que é hora de "vender" o site erótico do patrocinador, que cobra R$ 5 por minuto de striptease de modelo trancada em uma sala de estúdio.

Monique conta no ar que sua mãe e o pastor da igreja assistem ao programa e a censuram. Ela brinca com a equipe de produção, que vira personagem no discurso do programa. Não esconde os bastidores nem a entonação da voz de estar achando um saco ter de repetir a todo tempo o endereço do site no qual "você pode comandar uma gata que vai realizar suas fantasias mais picantes".

Sem pretensão de ser especialista no assunto ou de seguir as lições de telejornalismo, ela chama o cameraman negro pelo apelido de Cocada, ordena que focalize os pés das entrevistadas, "porque a rapaziada gosta" e exibe no ar os cartazes com os textos que é obrigada a ler.

Enfim, a receita da apresentadora é rir de si mesmo, rir da timidez da garota de striper que se constrange em falar de sua vida sexual fora do palco, da drag queen que só gosta de beijo na boca e de sexo oral, da dona de casa ninfomaníaca que tem cinco orgasmos por dia, da masoquista que usa um chicotinho para obrigar seu escravo a ficar de quatro.

"Monique, você é uma bicha que deu certo: nasceu mulher", diz a carta de um telespectador lida no ar pela apresentadora.

"Noite a fora" é mais honesto que o "MTV Erótica", travestido de serviço de orientação sexual para adolescentes.

É mais honesto que o "Jornal Nacional", cujos apresentadores não tiveram, na semana passada, a coragem de se desculpar por um erro de edição na abertura do telejornal - Fátima Bernardes olhava confusa para a câmera, enquanto as manchetes pré-gravadas eram faladas sem suas respectivas imagens.

Uma vinheta interrompeu o vexame. Os comerciais foram chamados. Fátima e o marido Willian Bonner voltaram e seguiram em frente, como se nada tivesse acontecido.

"Noite Afora" põe sagrado e profano no mesmo saco de gato, não tem papas na língua, pergunta o que se espera de um programa desse gênero, sem meias palavras, sem moralismo nem doses de hipocrisia.

Monique criou uma linguagem própria para o universo erótico: "bulinhas" (testículos), "zexo" ou "zenzual" (sexo e sensual), furinguim (ânus), lelê (confusão ou aventura sexual), "básico" (indispensável) e "tudo", gíria para definir coisas de qualidade.

Carioca da gema, não esconde suas influências de barracão de ensaio de escola de samba: "fala aí, cumpade".

Com fama de encrenqueira, Monique começou em 1998 no canal Shoptime, apresentando "De Noite na Cama", especializado em venda de produtos eróticos. Foi descoberta pelo diretor do canal, Carlito Camargo, que costuma elogiar sua rapidez de raciocínio e senso de humor. Depois foi contratada pela Rede TV! para apresentar o "TV Fama". Ameaçou deixar a emissora e acabou ganhando um aumento de salário e um programa só seu.

Em "Noite Afora", ela fica deitada em uma cama, cercada de travesseiros, em um cenário rosa ("parece a casa da Barbie", diz um telespectador), onde leva seus convidados a uma banheira para um papo sobre intimidades, algo semelhante ao que Xuxa faz no seu programa de domingo.

Um repórter de "Noite Afora" visita boates e pede para as "moças" levantarem a saia e mostrarem a calcinha. Vídeos caseiros com cenas eróticas de supostos telespectadores também são exibidos.

Tudo é muito surreal, muito engraçado, muito denunciador de uma loucura coletiva, de uma época em que gozar virou o único momento de prazer de uma pessoa. De olho nisso tudo, em meio a gargalhadas, Monique vai tentando garantir o seu ganha-pão.

 Serviço

Noite Afora
Com: Monique Evans
Canal: Rede TV!
Quando: diariamente, 1h15 da madrugada


   
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