24/10/2001
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03h37
"Onde a Terra Acaba", exibido na Mostra, ilumina enigma Mário Peixoto
JOSÉ GERALDO COUTO da Folha de S.Paulo
O "caso" Mário Peixoto (1908-92) é um dos enigmas mais fascinantes da cultura brasileira. Realizador, aos 22 anos, de uma obra-prima do cinema mundial, o experimental "Limite" (1930-31), Peixoto não fez mais nenhum filme, embora tenha escrito vários roteiros e iniciado a produção de um segundo longa, "Onde a Terra Acaba" (1931).
Fragmentos desse longa inacabado e imagens de bastidores das filmagens de "Limite" são os principais atrativos de "Onde a Terra Acaba", de Sérgio Machado.
À parte isso, Machado costura de modo delicado e competente um vasto material de arquivo e depoimentos de gente que conviveu com Peixoto (a atriz de "Limite" Olga Breno, o caseiro de seu "Sítio do Morcego", na Ilha Grande) ou sofreu o impacto de sua obra (Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Walter Salles).
Machado organiza a vida do cineasta em blocos: os estudos na Inglaterra; a aventura de "Limite"; a experiência fracassada de "Onde a Terra Acaba" (por conta de desavenças entre o diretor e a atriz-produtora Carmen Santos); o refúgio no "Sítio do Morcego".
Algumas passagens valem o ingresso: o "making of" de "Limite", com o diretor de fotografia Edgar Brazil inventando seus prodígios, as belíssimas cenas do longa interrompido e, "last but not least", depoimentos de Peixoto.
Num deles, extraído do documentário "O Homem do Morcego", de Ruy Solberg, o cineasta descreve com tamanha minúcia e ênfase uma cena de "A Alma Segundo Salustre" (um de seus roteiros não filmados) que é como se o filme existisse de verdade.
Solberg diz que Peixoto planejava filmar "Salustre", mas, no momento de começar a filmar, inventava algum impedimento. O último deles foi a exigência de que os protagonistas fossem Roberto Carlos e Brigitte Bardot.
O texto dito em "off" pelo ator Matheus Nachtergaele é extraído de diários do próprio Mário Peixoto. Quando necessário, discretos letreiros fornecem alguns dados essenciais sobre o biografado.
Se há um senão no documentário, é a tentativa de mimetizar o estilo de Mário Peixoto recorrendo a algumas de suas imagens-chaves: lua cheia, nuvens, palmeiras ao vento filmadas em "contre-plongée" e, claro, muito mar quebrando nas pedras, ao som do piano plangente de Satie.
Onde a Terra Acaba Direção: Sérgio Machado Produção: Brasil, 2001 Quando: hoje, às 20h50, na Sala Cinemateca; amanhã, às 12h, no Cinearte (Festival de Juventude); dia 29, às 19h, no Cinemark Market Place; e dia 1º, às 15h50, no Unibanco Arteplex
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